domingo, 29 de setembro de 2013

A pequenez e a esperança


 
 
Por que será que a pequenez humana sempre me surpreende. A sociedade atual é movida por estereótipos. Assim, roupas, bens, etnia, cor da pele, religião, orientação sexual, cor do cabelo, peso e etc, são motivos o suficiente para que seja estabelecido um perfil de personalidade, nada confiável, por sinal, pois é baseado apenas na visão limitada e preconceituosa que a maioria de nós insiste em manter. Entretanto, caro leitor, não há definição para seres humanos, visto que, a partir do instante evolutivo em que se tornaram racionais, passaram a ser capazes de definir a si mesmos.
É certo que as características podem contribuir para a formação das personalidades ou refletir certos traços individuais, mas nunca seriam capazes de, sozinhas, definirem um ser por serem apenas características.
Acontece, que diante da diversidade de formas, regras e opiniões, a maioria de nós ainda insiste em ser inflexível. São raras, nas discussões corriqueiras, as tentativas de modificar-se e tomar o ponto de vista alheio, ainda que como teste, questionando o próprio modo de pensar. É fácil assimilar os padrões da maioria e não há nada de errado nisso, exceto quando eles atingem o ponto de ferir o diferente verbal ou fisicamente.
Há alguns dias, eu voltava para casa, com meu extinto cabelo verde de calouro, quando fui abordado de uma forma nada educada por um grupo de policiais. Reviraram meu carro, minha mochila e meus bolsos, pediram meus documentos e, no meio deles, meu comprovante de matrícula.  
_Você faz medicina?
_Sim.
_UnB?
_Sim
_Calouro?
_Sim.
Ele então apontou desconcertado para meu cabelo verde e ainda perguntou:
_Foi trote?
Dessa vez, eu apenas abanei afirmativamente com a cabeça e eles me deixaram ir. Depois, fiquei pensando na pequenez daquele comportamento. Por que eu seria suspeito de algo simplesmente por ter cabelo verde? Por que eu seria inocente por ser estudante de medicina? Nenhuma dessas características me define como pessoa, porque,como você e o resto do mundo, caro leitor, eu sou o conjunto das experiências que acumulei ao longo da minha existência  e o que aprendi de positivo ou negativo com elas. Sou um pouco de cada pessoa com que conversei, porque cada palavra me acrescentou algo, mesmo que eu ainda não tenha a consciência exata de o quê.
Ainda assim, tento imaginar quando os padrões sociais deixaram de se voltar para aspectos tão vazios do ser humano como a cor da pele, a quantidade de recursos econômicos, os princípios religiosos superficiais... e passaram a valorizar moralmente o indivíduo instigando-o a ser ético, responsável, caridoso, gentil, respeitoso...
Uma amiga, que também estava de cabelo verde, teve uma experiência parecida e espero que ela não se importe que eu reflita sobre isso também. Quem a julga pela cor de seu cabelo não a merece, foi o que ela disse... Concordei e, com meu jeito introspectivo, pensei que quem julga os outros por suas características superficiais, todas elas, não merece receber a indignação. Esses, não merecem sequer nossa atenção sincera, devido à pequenez de seus atos e suas motivações.
Por isso, meu amigo, cuidado ao julgar alguém pelos atributos visíveis aos olho... Se há uma certeza na vida, é que ela é extremamente dinâmica.  As situações se alternam de forma incrível, ou assustadora. O fato é que nada impede de um dia estarmos envolvidos nas situações que condenamos ou internamente inclinados para as coisas que tanto julgamos. Então, percebemos de fato a pequenez dos julgamentos para, quem sabe, aprendermos a agir de forma diferente... Nem sempre aprendemos, mas, ainda assim, tivemos e temos todos os dias a oportunidade de agir diferente. Agiremos diferente, um dia, e, como os adultos que riem das traquinagens que cometia na infância, debocharemos de nós mesmos pela nossa pequenez... Quando, enfim, evoluirmos a ponto de admitir que somos todos igualmente falíveis e, da mesma forma, perfectíveis (capazes de atingir a perfeição), levaremos nossas relações a um novo patamar e, na sociedade, os padrões morais terão mais relevância que os padrões estéticos e sociais.
Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas não sou o único. Eu sei que um dia viveremos isso e superaremos nossos mínimos defeitos.

sábado, 21 de setembro de 2013

A vida e as oportunidades

Há algumas semanas tenho vivido algo intenso e, ao mesmo tempo, desafiador. É uma sensação indescritível ver seu sonho se realizar de uma forma tão brilhante, como se já estivesse arquitetado em algum lugar do universo. Como se eu não pudesse fugir das situações e pessoas que tenho encontrado...
Certa vez, alguém me disse que a vida é um grande quebra-cabeças em que as situações são perfeitamente compreensíveis, mas estão dispersas... Perdidas umas das outras por nossa pobre capacidade de abstrair, juntar as peças, ou, simplesmente, deixar fluir... Aí está a verdadeira felicidade... Em não se expor à revolta, não perder noites de sono imaginando como será o futuro ou culpar-se demasiadamente pelos erros do passado. Só há um tempo com o qual devemos nos preocupar: AGORA... É agora que podemos lutar por um futuro melhor e desfazer o mal que possamos ter feito. Só há uma forma de viver, caro leitor... Viver com atitude, que é ter a coragem de dizer o que se pensa a quem quer ouvir e se abster quando não vale à pena.

Além disso, aprendi quando disse sim, que não devemos, em hipótese alguma negar a vida... O não é uma grade que nos aprisiona em nossos conceitos pré-estabelecidos do mundo e nos impede de mudar... Assim, fixos, imóveis nós (eu e você, leitor) perdemos grandes oportunidades... Oportunidades únicas que a vida nos oferece de conhecer pessoas, viver situações e desfrutar momentos únicos, que, certamente, nos levaram a sermos melhores do que somos ou, simplesmente conhecer outras realidades diversas da com a qual estamos habituados. Todos nós somos, como disse em um texto antigo, uma mistura inacabada do que nos permitimos conhecer. Por isso, é fundamental que vivamos o máximos, respeitando, é claro, os limites éticos, mas sem as restrições relativas ao velhos medos e preconceitos. Estes, devem ser abolidos da nossa rotina, sempre que possível... 

domingo, 25 de agosto de 2013

Ser ou Não-ser?


Era o primeiro dia de aula de anatomia. Eu, ainda anestesiado pela ideia de cursar medicina, cheguei afoito na sala e que surpresa ao me deparar com dois corpos imóveis sobre a mesa. Corpos, apenas corpos... Como máquinas há muito abandonadas pelo condutor.

Tal realidade fez com que eu parasse e refletisse a respeito da existência. Seria realmente válido viver em busca de objetivos carnais, visto que sou possuidor de um corpo tão frágil? Beleza, juventude e fortuna valem mesmo a pena?

Os gregos já acreditavam no caráter dual do ser. De um lado, a alma, parte imaterial e pensante do indivíduo. De outro, o corpo, material, apenas realizador das funções da matéria.

Diante daqueles corpos percebi o quão pequenos somos nós, seres humanos, que em nossa arrogância dizemos ser “filhos do  Criador”. Não deixo de acreditar que de fato o somos. Seríamos, no entanto, os únicos? Quem poderia dizer que o mais ínfimo dos seres vivos não é nosso irmão e, assim como nós, herdeiros do universo? A questão é que a humanidade, ao longo de sua marcha evolutiva, apoderou-se das coisas e as chamou de suas... Mas, desde o menor dos insetos ao maior dos mamíferos, somos todos iguais. Nós usufruímos os mesmos compostos orgânicos e inorgânicos e as mesmas substancias formam nossa matéria perecível.

Apesar disso, dedicamos nossas vidas a negar a finitude da carne. Só que em algum momento deparamo-nos com a realidade que negligenciamos: A morte. Cosméticos, cirurgias plásticas... Disfarces, apenas, para afastar a ideia de que somos perecíveis... Mas ela (a morte) sempre vem, cedo ou tarde, rápida ou lentamente.

Acontece que essa dama tão temida leva apenas parte do que somos... A parte que nos serviu pelo tempo em que vivenciamos a experiência terrena... Mas o que de fato somos? O que foram aqueles corpos desabitados antes de serem postos naquela mesa a servir de estudo para jovens pretenciosos, afoitos pelos saber? Eles, os corpos, foram consciências racionais... Seres pensantes, que desempenharam algum papel na sociedade humana e, de certa forma, ainda desempenham ao permitir que suas máquinas orgânicas nos sirvam (a mim e a meus colegas) de material de estudo.

Onde, no entanto, estaria a parte pensante de cada um daqueles indivíduos?  De onde vieram... Onde viveram antes de habitar tais instrumentos?

 Essas respostas, meus amigos, foram buscadas por diversos mártires do pensamento humano, que dedicaram suas vidas a abrir os olhos de seus contemporâneos para a verdade óbvia: somos, simultaneamente, mortais e eternos, instinto e razão, materiais e imateriais... Após a morte do corpo, nossa consciência permanece viva a executar os mesmos raciocínios com o objetivo de evoluir rumos à  imagem e semelhança do Criador. O corpo, nossa parte mortal, degenera sob o solo e seus componentes moleculares, iônicos, elementares passam a servir de molde para que novas vidas materiais se desenvolvam (fungos, bactérias... etc) e, assim, inicia-se um novo ciclo capaz de interligar tudo o que é vivo.

Tal raciocínio nos leva a perceber que não há morte de fato se a alma é eterna e o corpo alimenta a vida de outros seres, o que fez dessa dama um conceito abstrato, irreal... Somos, portanto, eternamente vivos, material e imaterialmente, condenados à existência e  à infinitude.

domingo, 18 de agosto de 2013

Entre saudades e lições



Quando meu nome surgiu naquela tela, confesso, duvidei da realidade que se mostrava tão bela. Tal dúvida permaneceu comigo até o momento em que me vi obrigado a refletir sobre o caminho q me escolheu ( a medicina) e das responsabilidades que carrego desde que fui escolhido, as quais se mostraram simultaneamente óbvias e incompreensíveis.
“Ama a teu próximo como a ti mesmo”, eis o segredo da felicidade passado por nós há séculos pelo maior de todos os homens, mas até hoje pouco compreendido pela grande maioria dos mortais. É esse o pilar da profissão à qual fui guiado pelos caminhos da vida e pela qual me apaixonei. Na semana que se foi, no entanto, aprendi na prática como pessoas de mundos tão diversos podem se amar simplesmente, desde que estejam dispostos a ver além das pré-concepções, estereótipos formados,  e levar o “nós” a um patamar superior ao “eu”. Amor, em suas mais amplas formas, envolve a compreensão do outro, o toque, o abraço apertado, a confiança, o respeito, o carinho, a cumplicidade. Pude, então, ser mais eu do que nunca e descobrir dentro de mim sentimentos tão bonitos e verdadeiros que cativei em troca as pessoas que me cativaram. Nelas, causei a impressão de que eu possuía apenas aqueles sentimentos que se exteriorizaram ali deixando oculto o fato de que, como a maioria das pessoas, nem sempre sei ser tão tranquilamente eu nas relações cotidianas.  Talvez seja a hora de dizer que minhas qualidades, ainda que exaltadas nessa semana, são pequenas na imensidão dos meus defeitos. Mas aprendi com a vida o dom da auto-análise crítica e sincera para ser moldado por mim rumo ao crescimento.
Crescimento... Não seria esse o motivo da vida? Que outra finalidade teriam as dores Às quais somos submetidos senão o aprendizado? Ser a cada dia melhor do que no dia anterior...
Agora, sinto que começa para mim uma nova fase e, certamente, não será composta apenas por momentos bons, visto que trará consigo belos desafios. Estes, eu estou disposto a aceitar com tranqüilidade, já que, quando tudo se for, serei alguém infinitamente melhor.

Descobri, quando os piores/melhores momentos de minha vida haviam passado, que há uma fórmula infalível para anestesiar a dor: A fé... Sim, leitor, a fé é o escudo mais forte contra os ataques ferozes da vida. Não falo aqui da fé em uma divindade, geralmente atrelada às religiões. Refiro-me à fé na vida e na transitoriedade das situações. Afinal, é verdade que as dores se vão, as alegrias também. Das primeiras guardamos lições, das segundas, apenas saudade.   

sexta-feira, 19 de julho de 2013

As cruzadas modernas


Representação da Primeira Cruzada





É uma necessidade humana a crença em um ser superior e em um conjunto de normas para o comportamento moral, ao qual denominamos religião. Entretanto, porque considerar o meu Deus e a minha crença superior às demais? Por que pensar que é minha a posse exclusiva da verdade superior?

Desde os tempos mais remotos a religião é motivo de batalhas entre os homens.  Posso citar aqui milhares de exemplos na antiguidade, no período medieval, na idade moderna e nos tempos atuais. Muitos homens e mulheres brilhantes foram vítimas da impunidade dos que se acreditavam detentores da Verdade e, por isso, possuidores do direito de julgar as atitudes alheias. Assim, o progresso da humanidade muitas vezes foi barrado pela postura radical dos que se utilizavam apenas a religião como argumentos.


Na atualidade, o mesmo debate se faz: Religiões disputam a posse da verdade sobre temas ainda obscuros à investigação científica, nem sempre de forma diplomática. Os exemplos brotam na mídia e na imprensa, muitas vezes vinculados ao "terrorismo islâmico", mas a violência parte de ambos os muitos lados, apesar do que divulga nossa mídia parcial. Católicos contra protestantes, na Irlanda; islamitas e indus, na Índia; No Iraque, são "burgueses sem religião" contra islamitas; na palestina, judeus e muçulmanos...

No Brasil, o que se observa é a presença cada vez mais forte de parlamentares, eleitos por grupos religiosos, que discutem assuntos polêmicos de forma autoritária baseados em uma leitura própria das sagradas escritura e das palavras do Cristo. 
Eles atribuem a si o direito de julgar seus semelhantes e dizem ser mensageiros daquele que viveu entre ladrões, prostitutas, desertores e, nem por um instante, ousou julgá-los. “Os sãos não precisam de médico” dizia Ele. Ao levar sua verdade, não violentava as consciências alheias e jamais impôs seus preceitos, que deviam ser aceitos por amor. Amava a todos, independentemente de quem fosse ou do que fizessem. Ele, diferentemente de seus seguidores de épocas distintas, sabia que obrigar alguém a aceitar uma ideologia é uma grande violência.


Acredito que a fé é uma necessidade humana e a religião é um importante formador de consciências, mas cada indivíduo possui necessidades morais específicas. Por isso, a religiosidade deve ser uma escolha, não uma imposição. Não há UM caminho, mas há um caminho para cada um. Nenhum deles é melhor do que o outro e, ainda que sejam aparentemente opostos, não o são de fato.
Allan Kardec, codificador da Doutrina Espírita, certa vez questionou aos seres extracorpóreos qual seria a melhor religião. Como resposta, obteve o seguinte: “A melhor religião é aquela que faz homens de bem”.  O que seria um “homem de bem”? “É aquele que ama a Deus sobre todas as coisas e ao seu semelhante como a si mesmo”. Quem é o meu semelhante? Toda a humanidade.  
Toda a humanidade? E quanto àqueles que pensam diferente de mim? E os que têm uma pele de cor diferente, que oram voltados para Meca, chamam Deus por outro nome, que usam turbante, que amam gente do mesmo sexo, que fazem ‘macumba’, que gostam de funk, que usam drogas, que ganham menos, que moram longe...? Eles não são como eu... Será? São seres humanos? Então, são exatamente iguais a você, caro leitor, e merecem o mesmo respeito e o mesmo direito de crer em Deus, ainda que de forma diferente, ou mesmo de não crer em coisa alguma. Cabe a cada um a escolha do caminho que lhe faz alguém melhor e não temos, nem devemos acreditar ter, o direito de julgar tais decisões.
“Aos outros eu dou o direito de ser como são, a mim, dou o dever de ser cada dia melhor.” (Chico Xavier)

sábado, 13 de julho de 2013

Eu e Outro

Acredito que a vida é regida por uma lei, a partir da qual toda ação individual tem um efeito, que retorna a nossa própria vida. Não se trata de punições ou gratificações pelas nossas atitudes, são apenas efeitos. Para usarmos uma analogia corriqueira, colhemos o que plantamos... Plantando espinhos, colheremos espinhos e não há como culpar a ninguém senão a nós mesmos. Se plantarmos flores, no entanto, colheremos flores e quanto mais belas as flores que plantarmos, mas belo o jardim que surgirá em torno de nós.Como, no entanto, plantar um jardim se a maioria de nós está sempre rodeada de espinhos? Como não deixar que as flores murchem em meio à podridão dos sentimentos que sempre nos envolve? 
Quase sempre nós, fixados no que não temos ou não podemos ter, movemos súplicas aos céus, cheios de auto piedade, e justificamos uma infelicidade egoísta, que tem origem no descontentamento. Na maioria das vezes, a felicidade é transferida a pessoas, objetos ou circunstâncias, mas o nome disso é satisfação. Uma satisfação momentânea, que logo se esvai e dá lugar, novamente, à contrariedade. Então, é comum que nos dirijamos a Deus, independentemente da crença que nos mova, em tom de cobrança como se fosse ele o culpado de nossa “infelicidade”.Acontece que todas as situações a que somos expostos na vida, mesmo as mais penosas, são oportunidades únicas para uma transformação interior. Felicidade, dessa forma, é questão de ser. Ela não está na beleza, na juventude, na fortuna sem limites... Está nos nossos próprios atos e nas virtudes que obtemos quando a vida nos impõe tragédias momentâneas. Para que serviriam as torpezas da vida se dela não extraíssemos o melhor, a parte que nos emite algum aprendizado, qualquer que seja.
A resposta é muito simples: somos parte de um todo e, ainda que tentemos pensar em uma felicidade individual, ela não existe (apenas sob a forma de uma satisfação momentânea). Por isso, somos felizes quando pensamos no todo, ou nas partes que nos rodeiam. Assim, uma forma de plantar um jardim é criar o hábito de fazer o bem àqueles que estão por perto. Não falo das grandes obras de caridade, ainda que estas sejam formas sublimes de cultivar belos jardins. Falo aqui das palavras amigas que podemos levar àqueles que sofrem por perto de nós. Não é difícil ser gentil e com palavras simples podemos cativar pessoas e transformar em flores os sentimentos delas a nosso respeito. Assim cresce o jardim, que se converte na verdadeira felicidade. Por isso, lembremo-nos cultivar o respeito e o carinho pelo outro, pelo desconhecido ou pelo familiar, e nos colocarmos no lugar deles antes de qualquer ato, antes de qualquer pensamento. Saibamos que Julgamentos, críticas venenosas, pensamentos invejosos ou sentimentos similares obscurecem nossa própria paz, pois, já que estamos todos ligados, o meu elo com o outro é a minha ligação comigo mesmo. Que tipo de vínculo você, caro leitor, deseja ter consigo mesmo?

terça-feira, 18 de junho de 2013

Primavera Brasileira?

As ruas do Brasil tornam-se palco de uma nova transformação. Seria um momento histórico marcado pelo levante popular contra as injustiças que há muito incomodam a nação brasileira sem, de fato, acordar às massas? Nas últimas décadas a sociedade do consumo e a grande imprensa, comprometida com os interesses das classes favorecidas economicamente, entorpeciam a população com telenovelas e espetáculos esportivos. Entretanto, emerge, neste século, um novo arma de informação e mobilização: as redes sociais. É hora, então, de lutar contra as mazelas que os grandes insistem em nos omitir e por fim à injustiça que, até agora, aceitamos imóveis.
O aumento nas tarifas de ônibus foi o catalisador deste levante, não a causa principal. Não existe, na verdade, uma causa principal. Luta-se contra fatores intoleráveis na politica, na economia e na sociedade brasileiras. Não é um movimento atrelado a partidos, como pretende a direita podre e elitista ou a esquerda radical. O que se pretende é criticar o sistema e moldá-lo de forma a construir uma sociedade mais justa. O que se quer é uma imprensa menos parcial; um Estado laico, avesso a qualquer tipo de intolerância; o fim da impunidade à corrupção ( não às PEC’s 33 e 37); um transporte público de qualidade; mais investimentos em educação e saúde; maior preocupação em relação às questões ambientais em contraposição ao desenvolvimento a qualquer custo. A população brasileira não precisa de mais estádios, precisa de oportunidades. Sim, é inegável a evolução econômica e social do país nos últimos anos, mas queremos e merecemos mais!
Devemos, no entanto, estar cientes de que, ainda que de forma sutil, alguns grupos políticos tentarão distorcer o movimento transformando-o em uma revolução para destituir o governo, quando, na verdade, não é esse o objetivo. Lembremo-nos que uma mobilização popular em 1964 foi utilizada pelas elites e pela grande imprensa para pôr fim ao governo de João Goulart, o que serviu como base de apoio para a implantação da ditadura militar, um dos períodos mais tenebrosos da história brasileira. Por isso, protestemos, mas fundamentados em bases críticas para que não continuemos como sempre fomos, acéfalos manipuláveis pelos interesses dos grandes (em termos econômicos), aqueles que de fato mandam no mundo... E no Brasil.


segunda-feira, 3 de junho de 2013

O existencialismo cristão

Jean Paul Sartre foi um filósofo renomado do século XX, que presenciou grande parte das maiores atrocidades que o ser humano foi capaz de produzir ( duas grandes guerras, sistemas repressores e ditatoriais de direita e esquerda, genocídios e outros crimes dos quais a humanidade deveria se envergonhar). Ele desenvolveu um pensamento maravilhoso, no entanto, partiu de uma premissa com a qual não sou capaz de concordar: Deus não existe.
Para ele o ser humano não é como todas as outras coisas, nas quais a essência precede a existência, ou seja, os objetos já são criados com um objetivo, uma finalidade, como uma tesoura que é produzida para cortar papel e, desde antes de sua existência possuía essa finalidade. A humanidade não, ela primeiro existe, para, em seguida, ser definida por si mesma. Assim, nós, seres humanos, somos responsáveis por nosso próprio projeto de vida, nossas escolhas, atitudes e os efeitos delas. Por isso, não podemos culpar aos outros, ou a um Deus, que para ele não existe, pelos fracassos ou vitórias em nossas vidas, visto que somos, desde o nascimento, condenados à liberdade e somos livres, ainda que não saibamos, pois o que nos ocorre hoje é, de alguma forma, fruto de nossas escolhas.
É possível, no entanto, chegar às mesmas conclusões sem contestar a existência de um Deus, uma força maior e melhor do que nós, ao afirmar que essa força, ao criar a humanidade, fez algo diferente... Algo autônomo, capaz de definir-se e encontrar seu próprio lugar no mundo... Algo livre por si mesmo e, de tal forma condenado à liberdade, que é um crime culpar às circunstâncias por qualquer mazela que seja. Pelo contrário, se há coisas inaceitáveis no mundo, cujos exemplos são quase infinitos, é por que nós, seres humanos, de alguma forma permitimos e é nosso dever lutar contra elas.
Partindo do mesmo princípio, de que Deus fez-nos livres, seria inconcebível a ideia de pecado, como algo proibido por Ele. Substituamos, portanto, “pecado” pelo conceito de causa e consequência, ou seja, não somos punidos pelo Ser Superior por nossas falhas, mas, simplesmente, temos diante de nós as consequências de todo e qualquer ato que desempenhemos. Dessa forma somos o que fizemos de nós e seremos o que fizermos de nós.
Nesse contexto, seria infundada a intolerância, principalmente quando a ideia de Deus é utilizada como base para julgar os atos alheios, porque não há um Deus intolerante, há um Deus bom, criador de uma lei justa, na qual o que homem é seus próprios atos. Que perda de tempo, então, julgar alguém pela cor da pele, orientação sexual, gênero, etnia, religião, partido político, time de futebol, aparência física... Pois não temos esse poder, o que pune os indivíduos é sua própria liberdade!
Alguém, entretanto, poderia discordar de minhas conclusões ao exemplificar qualquer mazela que acompanhe um indivíduo desde o nascimento. Eu, nesse caso, responderia com outra pergunta: Seria a vida humana uma existência finita, contida em um curto espaço de tempo? Pouco provável, se procurarmos entender a criação de uma forma mais ampla e complexa. Assim existiria, indubitavelmente, um momento anterior ao nascimento e outro posterior à morte. A maioria de nós desconhece ambos, mas, exatamente por isso, não há quem possa dizer com propriedade que não exista. Assim, seria aceitável a proposição de que essas moléstias congênitas são efeitos de causas desconhecidas, anteriores à vida material.

 Pede-se dizer, então, que somos livres, nascemos livres, morreremos livres, seremos livres após a morte como o fomos antes do nascimento e desde a criação!

quinta-feira, 9 de maio de 2013

O destino de todos...



Sem querer tendemos, ao longo da vida, a negar a morte dando-lhe uma aparência tenebrosa, como nas lendas que nos fazem acreditar desde a infância. Ela, desse modo, parece-nos um monstro assustador, sempre distante de nossa felicidade, porque, geralmente, essa felicidade está vinculada à vida do corpo. Acontece, que os luxos e prazeres da vida não nos trazem felicidade, nem nos torna imortais, mas quando nos damos conta disso, a morte está aqui ou ali, mais perto de nós do que podemos imaginar.
O que é a morte? Seria o fim ou, apenas, o desconhecido? Tal resposta, sempre vinculada a princípios religiosos, aperta o peito até mesmo do homem mais convicto de sua fé. Entretanto, inegável é a existência de um ser superior, independentemente do nome que se dê a ele. Inegável também é o fato de que nossa existência material tem um objetivo maior do que podemos compreender e o fim dela não é necessariamente o fim.
Essa ideia é, com certeza, um conforto a mais para aqueles que se queixam da perda de um ente querido, mas é, principalmente, uma constatação lógica, ainda que os ateus discordem. Deus está presente na perfeita harmonia do universo, de partículas subatômicas a galáxias inteiras. Cada átomo, por menor que nos pareça, tem função na composição de partículas cada vez maiores até à conformação de íon ou moléculas indispensáveis à ordem.
Esse ser superior que nomeamos de formas diversas se faz parte integrante de tudo o que conhecemos ou que conheceremos. A partir dessa perspectiva, é possível estabelecermos que a ordem regular das coisas dá-se por meio de leis transcritas, não nas sagradas escrituras, mas no material gênico de cada
ser vivo ou na conformação iônico-molecular dos seres “não vivos”. O sofrimento, dessa forma, tem origem na não compreensão dessas leis universais ou, simplesmente, na transgressão delas.
  Não trato aqui da rigidez com que se pretende abordar certos “princípios” religiosos como se tivéssemos autoridade para julgar os atos alheios, mas de uma abstração interior, necessária para que entremos em contato com nossa essência e compreendamos as leis morais que devemos seguir para obter uma harmonia externa, independentemente do que somos, da forma como amamos, da cor da pele de nossos corpos materiais. Então, somos capazes de compreender o que somos e porque vivemos. Vivemos, estamos em nossos corpos, em tais circunstancias, pelo simples fato de aprimorarmos nossa essência imaterial no sentido de ser, cada vez mais, a imagem e semelhança do criador. Aqui, nessa fase transitória de nossa vida real, fazemos vínculos que não são desfeitos ou curamos chagas que provocamos em algum momento.
Dessa forma, a morte é, simplesmente, a ruptura com a materialidade. Não passa de uma simples transição à qual todos que estão neste planeta estarão submetidos, cedo ou tarde. O que fazer, então, diante da saudade desmedida de quem se ama? Paciência, que, nesse caso, é sinônimo de fé. A fé naquele que é maior, melhor e mais sábio do que nós e que, com certeza, possibilitará, em algum momento, o reencontro entre nós e os entes queridos, pois, o destino de todos é, independentemente do caminho que se tome, a perfeição e o encontro com o próprio Deus .

domingo, 7 de abril de 2013

Nadar contra a corrente e crescer


Quero começar com uma comparação. Com certeza você, meu leitor, já ouviu algo sobre a piracema.
A verdade é que na piracema os peixes nadam contra a corrente para se reproduzir na nascente, um ambiente mais seguro da ação dos predadores e com uma maior quantidade de alimentos disponível. É, no entanto, o estresse provocado pelo ato de nadar contra a corrente que promove o amadurecimento reprodutivo desses peixes, ou seja, trata-se de um processo de amadurecimento... Um processo...
Em nós, seres humanos, isso também ocorre. Nós nadamos sempre contra a corrente, cada um de nós a sua maneira. No final, nos percebemos mais maduros, não sexualmente, mas moralmente.

Trata-se de um processo exclusivamente pessoal, o qual outras pessoas não seriam capazes de compreender na mesma intensidade, ainda que sejam incluídas pelo amor que têm por nós ou pela simples vontade de governar as nossas vidas. Cada um tem suas necessidades de reforma íntima, suas verdades incondicionais e seus porquês. Mas cabe a nós a escolha entre promover essa reforma moral ou se utilizar das mazelas que nos atingem para justificar a auto piedade, ou ainda embrutecer, culpar o destino e as pessoas e espalhar o amargor pelos ambientes em se passar... É uma escolha.
Não é tão simples perceber os fatos dessa maneira. É preciso, primeiramente, fazer uma análise interior, buscar em si as causas do mal. Então, encontrar dentro de nós aquelas características que escondemos dos outros, que nos fazem frios, egoístas, preconceituosos, arrogantes...
Você poderá dizer “eu não sou assim”, mas todos nos o somos em maior ou menor grau, consciente ou inconscientemente.  
Mas o que é correr contra a corrente? É enfrentar os obstáculos da vida e suportar as situações desagradáveis. Mais do que isso, é aprender com elas e se tornar a cada dia alguém melhor que se poderia ser

quinta-feira, 21 de março de 2013

Sobre atitudes e situações...


Um dia eu pretendo descobrir qual é o verdadeiro sentido da vida. Seria essa busca desenfreada por coisas tangíveis ou os ganhos imateriais obtidos ao longo do caminho? Longe de ser uma pergunta retórica, essa questão me faz refletir se vale mesmo a pena dar tanto valor as desnecessidade que julgamos necessárias. Angústias, medos, decepções... Quem nunca sentiu algo parecido? E aquela inveja que nos recusamos a chamar como tal, mas fica retida na pergunta “porque ele e não eu”? E o egoísmo, que não chamamos assim, em sofrer pela perda ou não ganho de algo ao qual atribuíamos muito valor, emocional ou material? Vale mesmo a pena se lamentar?
NÃO
Toda lamentação é tempo perdido. Tempo esse, que seria muito melhor empregado em procurar novas chances, novas oportunidades, novos caminhos... Novas virtudes... Novas ideologias... Novos métodos... Novos lugares... Novos méritos
Então, a vida se mostra muito mais receptiva e perdas se transfiguram em ganhos até que descubramos que a vida é feita para vencermos, não materialmente, mas moralmente. Cada derrota é uma vitória, se bem utilizada. Se com ela vier o aprendizado, o crescimento moral, intelectual ou até físico... Enfim, não vale à pena sofrer na dor, ainda que ela nos pareça inevitável, pois cada queda nos abre a uma nova oportunidade de vitória.
O problema da geração atual, ou de todas as gerações que conhecemos, é não saber ver além do momento presente ou se apegar demasiadamente às coisas transitórias se negando à certeza de que tudo o que é material é transitório. Se o homem pudesse abstrair e observar sua própria vida por um ângulo externo a ela, caso fosse possível, compreenderia a necessidade de todas as situações, que se encaixam perfeitamente às nossas necessidades imateriais.
A verdade, meus amigos, é que tudo tem um porquê, ainda que complexo, abstrato ou escondido. Isso não elimina nosso livre arbítrio ou nossas responsabilidades e renego veemente qualquer ideia que se utilize do termo destino para justificar as consequências de seus atos e se livrar de qualquer culpa... Não! Não é isso... O que quero afirmar é que algumas situações independem de nossa vontade e devemos saber como lidar com elas, pois é isso o que faz a diferença.

domingo, 17 de março de 2013

Sobre a esperança...


Uberlândia, 17 de março de 2013...  
 “Hoje talvez seja um bom dia para escrever no blog”... Realmente... É um bom dia.
Quero falar aqui da esperança que me atinge inconscientemente de que um novo mundo está surgindo. Percebo que, ainda que muitos se apeguem às velhas formas de pensar, que os herdeiros do misticismo irracional, das leituras deturpadas da bíblia e do fundamentalismo, tomem postos influentes no governo, o pensamento racional é predominante entre a população.
 Sinto, pelos que se apegam à forma irracional de pensar e, esquecendo-se das palavras do Mestre diante da mulher adultera, insistem em julgar os que pensam diferente de si. Mesmo assim, as contestações ao velho brotam de todos os cantos, sem que se possa conter. Felizmente, a grande maioria se escandaliza diante de afirmações racistas e homofóbicas dos que tentam corromper a massa interpretando negativamente o Homem cujas palavras nortearam a moral do ocidente.   
Um latino americano herda o trono de Pedro e fala em caridade usando o nome de um dos maiores homens da história da humanidade. Um trono impregnado de corrupção, que, por muito tempo, comandado pelos fundamentalistas como os que hoje se inserem no governo brasileiro, insuflou massacres bárbaros que passaram para a historia como “ guerras santas”.
Não há nenhuma fé melhor que a outra, amigo leitor, e tentar se impor sobre o que pensa diferente é uma violência sem tamanho. Assim, muitos de nós ainda estamos escravos de nossas próprias concepções, enquanto o mundo pede que mudemos,  aceitemos a diversidade e lutemos pelo direito de quem precisa ser diferente. “ Não é sinal de saúde estar incluído em uma sociedade doente”, mas ainda credito na cura.
É impossível não citar a brutalidade com que os homens, mulheres e crianças foram trazidas da África e, como animais, obrigados a compor a base de uma sociedade estática e cruel, poque ainda hoje suas crenças, de uma riqueza cultural inquestionável, são alvo de severos julgamentos por parte daqueles que, com a pretensão de serem os escolhidos de Deus, julgam-nas contrárias às leis do Cristo. Contrário à lei do Cristo é a intolerância.
O homem muda com o tempo e o mundo muda com o homem. O progresso científico é inquestionável, mas para quando adiaremos o progresso moral?
Metade do homem é sua própria consciência, a outra são os fundamentos impostos pela sociedade para o “bem viver”. Parte desses fundamentos garante a ordem na sociedade, a outra oprime as particularidades. Como diferenciá-las? Como saber o limite entre prudência e preconceito? Não julgar é a melhor saída, por que cada um é guiado pelas próprias concepções de mundo e nenhuma concepção é melhor do que a outra. 


Para Natanna Kessia Nunes Gomes, que me pediu para escrever algo nesse blog, já quase esquecido.
Para Patricia Ferreira Silva, que carrega no ventre um pedacinho da esperança do Novo mundo.
 Para Pedro Paulo Ferreira Silva e Melina Lorraine Ferreira, que há dois anos e dois dias compartilharam comigo o marco fundamental para o meu amadurecimento.
Para os meus pais, o apoio incondicional.