Não é a primeira vez que deixo de escrever por um tempo. A
verdade é que sempre retorno quando sinto a necessidade de falar sobre algo.
Nos últimos meses, com o sonho realizado, quase não tive
tempo para pensar ou escrever... Minha vida era um turbilhão de novidades em
que as situações se alternavam sem que eu tivesse tempo para refletir ou
dividir meus pensamentos. Minha energia esteve voltada para questões mais
técnicas como decorar nomes, examinar corpos inertes, fazer amigos... Mas hoje,
quando a tarde terminava, parei pra pensar de novo na minha vida e resolvi
contar mais um sonho.
A minha vida, como a sua, leitor amigo, é um eterno devir...
Como dizia Heráclito, filósofo grego que conheci nos meus tempos de
vestibulando, ela é um fluxo sem fim de coisas, momentos, pessoas, lugares...
Mas, como dizia Platão (outro que conheci na mesma época) só a vida material é
assim, uma realidade abstrata e transitória da qual pouco levamos além do que nós
aprendemos, dos afetos verdadeiros e das boas lembranças. O resto segue com o
rio que nos banha, aquele que deixa de ser o mesmo ao passar por nós
Os aprendizados, na maioria das vezes, nos vêm pela dor... Quanto
maior e mais profunda essa sensação, mais intensa a reflexão dos maus passos
que nos feriram. Então, recomeçamos e seguimos outra direção, ou a mesma para
sofrer repetidas vezes até, finalmente aprendermos o que nos faz e o que não
nos faz feliz. Quantas vezes é preciso errar para aprender a fazer a coisa
certa? Cada um tem seu próprio tempo.
Os afetos verdadeiros, tão raros quanto intensos, são os que
conseguem despir-se dos apelos materiais, do apego, do ciúme, do orgulho, da
inveja, da vaidade, do egoísmo e de todas essas sensações tão baixas quanto
transitórias. É, principalmente, sentir-se feliz com a felicidade do outro.
Por fim, ficam as boas lembranças... Vi em algum lugar que a
saudade é um privilégio, pois só a sente quem já viveu coisas boas o suficiente
para não saber esquecer. A sabedoria, no entanto, está em deixar ir, não fazer
das lembranças uma prisão. O agora é o único momento que vale à pena ser
vivido... Ainda assim, as lembranças, quando boas, deixam mais leves as
vivências futuras. Quando más, elas nos levam a cultivar um futuro mais rico em
boas emoções.
Sendo assim, o que é a felicidade? É a busca de coisas
eternas, como diria o velho Platão? Pode ser... Mas tenhamos em mente as
lembranças dos momentos passageiros também são eternas. Alimentar nosso ser
interior e distinguir o verdadeiro do falto é mais que importante para vivermos
bem, mas, vez ou outra, é preciso que nos permitamos a viver como os homens do
nosso tempo e alimentemos também o nosso corpo. Essas, desde que na justa
medida, são excelentes oportunidades de ampliar nossos afetos e povoar nossa
memória de momentos inesquecíveis e, de tal forma, eternos em meio ao devir que
chamamos vida.
Mas cada um tem seu
tempo e carrega dentro de si as verdade de que precisa para ser feliz. Elas
ficam escondidas em algum lugar lá dentro até que chega a hora do grande
encontro de si consigo.