quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

O que o rio não leva...


Não é a primeira vez que deixo de escrever por um tempo. A verdade é que sempre retorno quando sinto a necessidade de falar sobre algo.

Nos últimos meses, com o sonho realizado, quase não tive tempo para pensar ou escrever... Minha vida era um turbilhão de novidades em que as situações se alternavam sem que eu tivesse tempo para refletir ou dividir meus pensamentos. Minha energia esteve voltada para questões mais técnicas como decorar nomes, examinar corpos inertes, fazer amigos... Mas hoje, quando a tarde terminava, parei pra pensar de novo na minha vida e resolvi contar mais um sonho.

A minha vida, como a sua, leitor amigo, é um eterno devir... Como dizia Heráclito, filósofo grego que conheci nos meus tempos de vestibulando, ela é um fluxo sem fim de coisas, momentos, pessoas, lugares... Mas, como dizia Platão (outro que conheci na mesma época) só a vida material é assim, uma realidade abstrata e transitória da qual pouco levamos além do que nós aprendemos, dos afetos verdadeiros e das boas lembranças. O resto segue com o rio que nos banha, aquele que deixa de ser o mesmo ao passar por nós  

Os aprendizados, na maioria das vezes, nos vêm pela dor... Quanto maior e mais profunda essa sensação, mais intensa a reflexão dos maus passos que nos feriram. Então, recomeçamos e seguimos outra direção, ou a mesma para sofrer repetidas vezes até, finalmente aprendermos o que nos faz e o que não nos faz feliz. Quantas vezes é preciso errar para aprender a fazer a coisa certa? Cada um tem seu próprio tempo.

Os afetos verdadeiros, tão raros quanto intensos, são os que conseguem despir-se dos apelos materiais, do apego, do ciúme, do orgulho, da inveja, da vaidade, do egoísmo e de todas essas sensações tão baixas quanto transitórias. É, principalmente, sentir-se feliz com a felicidade do outro.

Por fim, ficam as boas lembranças... Vi em algum lugar que a saudade é um privilégio, pois só a sente quem já viveu coisas boas o suficiente para não saber esquecer. A sabedoria, no entanto, está em deixar ir, não fazer das lembranças uma prisão. O agora é o único momento que vale à pena ser vivido... Ainda assim, as lembranças, quando boas, deixam mais leves as vivências futuras. Quando más, elas nos levam a cultivar um futuro mais rico em boas emoções.

Sendo assim, o que é a felicidade? É a busca de coisas eternas, como diria o velho Platão? Pode ser... Mas tenhamos em mente as lembranças dos momentos passageiros também são eternas. Alimentar nosso ser interior e distinguir o verdadeiro do falto é mais que importante para vivermos bem, mas, vez ou outra, é preciso que nos permitamos a viver como os homens do nosso tempo e alimentemos também o nosso corpo. Essas, desde que na justa medida, são excelentes oportunidades de ampliar nossos afetos e povoar nossa memória de momentos inesquecíveis e, de tal forma, eternos em meio ao devir que chamamos vida.

 Mas cada um tem seu tempo e carrega dentro de si as verdade de que precisa para ser feliz. Elas ficam escondidas em algum lugar lá dentro até que chega a hora do grande encontro de si consigo.