sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Entre o imoral e o amoral

Há mais ou menos uma semana presenciei o conflito permanente, mas velado, dos dois mundos que dividem nossa sociedade.
_Passa a grana playboy! Foi a voz que ouvi. Um grito que me fez acordar do meu mundo cor de rosa. Um grito que furou a bolha na qual eu me prendia para não perceber a realidade. Por que a realidade é fria e desumana. A realidade é perversa e desleal. Essa é a realidade.
_Passa a grana, rapaz, vai passando tudinho! Continuou aquela voz.
Os olhos eram trêmulos. A covardia e a coragem dividindo uma mente desconectada da realidade pelo efeito de substâncias que transformam o homem em um escravo da própria vontade.
Eu tremia. Nada mais que o medo de perder o que veio do suor do rosto dos meus pais. Levou-me o dinheiro do almoço do dia seguinte e o celular cheio de funções que eu ainda nem tinha descoberto, depois saiu correndo. E eu fiquei parado, vendo-o se afastar e me martirizando por não ter usado contra ele a violência que escondo de mim mesmo. Bati nos postes e nos muros. Bati com força no meu próprio rosto. Mas ele já estava longe.
Minutos depois, dentro de um carro de polícia, eu me dei conta de que eu não queria encontrar o que procurava. Desejei que ele estivesse longe dali para que eu não visse de novo aqueles olhos confusos. Os olhos de uma consciência amoral de quem seria punido por nunca ter aprendido o que é certo ou errado. Quando passamos diante de um bar, a televisão ligada me mostrou o horário eleitoral cheio de políticos sem moral. Eles não eram amorais como o homem que me roubou o celular, eram imorais e talvez nunca deixem de ser. Tive nojo deles. Todos eles. Esquerda, direita, verde, vermelho ou amarelo. São todos iguais. Uma professora que tive há muito tempo disse que toda generalização é falsa. Neste caso, espero do fundo do coração encontrar a exceção, pois a regra eu já conheço há muito tempo. O pior de tudo é que no próximo domingo vou colocar meu país diante do governo de alguém que não merece governar. Vou eleger o menos pior por não saber do que o pior é capaz, sabendo que, no fundo, são exatamente iguais. Nenhum deles se importa com a criatura de olhos trêmulos na base de nossa pirâmide social. Nem mesmo eu me importo. No fundo, somos todos imorais ou amorais pelo simples fato de permitirmos que isso continue a existir diante de nossos olhos. Ainda que na parte externa de nossas bolhas