Talvez eu já tenha mencionado essa história em algum dos
textos anteriores, mas certa vez eu montei em uma mula e minhas mãos pequenas não
tiveram força para segurar com firmeza as rédeas ou domar a fúria daquele animal,
uma fúria inconsciente. O desespero tapou meus olhos e eu senti o roçar dos
galhos arranharem meu corpo em uma velocidade que não podia controlar. Foi então
que algo me fez acreditar que eu era forte o bastante para superar tudo aquilo.
A coragem abriu meus olhos e surgiu diante deles o galho de uma goiabeira. Apertei
com força e a mula seguiu sem mim.
É assim que eu descrevo o tempo que se passou desde minha última
postagem decente. O fato é que me sinto como alguém que abre os olhos depois de
um longo sono e, finalmente, passa a ver as coisas de forma racional. Como quando
a coragem de abrir os olhos me mostrou o galho da goiabeira, dessa vez o que
vejo é uma infinita quantidade de motivos para ser feliz. É isso que todo ser
humano deveria ver, mas a maioria de nós perde tanto tempo se queixando do que não
tem, não é ou não viveu que se esquece de ver o que tem, o que é, o que viveu e
o que ainda vai viver.
Quando eu era pequeno, minha mãe costumava dizer que é enquanto
dormimos que crescemos. Hoje sei que é a mais pura verdade, pois enquanto eu
dormia esse sono amargo do desespero, cresci de uma forma que eu nunca havia
imaginado. Dessa forma, o meu eu que acorda agora é bem maior que o pedaço de
mim que dormiu há quase um ano. Esse eu sabe diferenciar, entre as pessoas que
vê diariamente, as que merecem um “bom dia” e as que não podem receber menos
que um abraço, pois esse abraço ainda é pouco perto do afeto de que são
merecedoras. Enquanto as primeiras são os galhos que roçam e ferem nossos
corpos e nossa sanidade, as segundas são o galho da goiabeira que sempre estão
dispostas a nos proteger das justas injustiças da vida.
O novo eu sabe não julgar, não ferir e luta contra si mesmo
para repelir todo e qualquer pensamento que lhe faça mal. Ele sabe que alguns
pensamentos são como pragas que nós mesmos disseminamos dentro de nós e se os
deixamos crescer eles se tornam os terríveis monstros como a mágoa, a inveja,
ódio, a indiferença, o medo, o orgulho e todos esses males morais,
que, às vezes, nascem em nós e adoecem nossa razão.
Esse eu sabe esperar que essa mula chamada destino lhe
mostre o galho da goiabeira para que ele possa segurar com força o que tanto
busca.
Esse texto, embora seja público, não é mais que desabafo...
Uma conversa entre eu e eu mesmo. Ainda assim, o dedico e dedicarei tudo o que
eu fizer por toda a minha vida para meus galhos de goiabeira que estão comigo
abrindo meus olhos e me fazendo acordar.