sexta-feira, 19 de julho de 2013

As cruzadas modernas


Representação da Primeira Cruzada





É uma necessidade humana a crença em um ser superior e em um conjunto de normas para o comportamento moral, ao qual denominamos religião. Entretanto, porque considerar o meu Deus e a minha crença superior às demais? Por que pensar que é minha a posse exclusiva da verdade superior?

Desde os tempos mais remotos a religião é motivo de batalhas entre os homens.  Posso citar aqui milhares de exemplos na antiguidade, no período medieval, na idade moderna e nos tempos atuais. Muitos homens e mulheres brilhantes foram vítimas da impunidade dos que se acreditavam detentores da Verdade e, por isso, possuidores do direito de julgar as atitudes alheias. Assim, o progresso da humanidade muitas vezes foi barrado pela postura radical dos que se utilizavam apenas a religião como argumentos.


Na atualidade, o mesmo debate se faz: Religiões disputam a posse da verdade sobre temas ainda obscuros à investigação científica, nem sempre de forma diplomática. Os exemplos brotam na mídia e na imprensa, muitas vezes vinculados ao "terrorismo islâmico", mas a violência parte de ambos os muitos lados, apesar do que divulga nossa mídia parcial. Católicos contra protestantes, na Irlanda; islamitas e indus, na Índia; No Iraque, são "burgueses sem religião" contra islamitas; na palestina, judeus e muçulmanos...

No Brasil, o que se observa é a presença cada vez mais forte de parlamentares, eleitos por grupos religiosos, que discutem assuntos polêmicos de forma autoritária baseados em uma leitura própria das sagradas escritura e das palavras do Cristo. 
Eles atribuem a si o direito de julgar seus semelhantes e dizem ser mensageiros daquele que viveu entre ladrões, prostitutas, desertores e, nem por um instante, ousou julgá-los. “Os sãos não precisam de médico” dizia Ele. Ao levar sua verdade, não violentava as consciências alheias e jamais impôs seus preceitos, que deviam ser aceitos por amor. Amava a todos, independentemente de quem fosse ou do que fizessem. Ele, diferentemente de seus seguidores de épocas distintas, sabia que obrigar alguém a aceitar uma ideologia é uma grande violência.


Acredito que a fé é uma necessidade humana e a religião é um importante formador de consciências, mas cada indivíduo possui necessidades morais específicas. Por isso, a religiosidade deve ser uma escolha, não uma imposição. Não há UM caminho, mas há um caminho para cada um. Nenhum deles é melhor do que o outro e, ainda que sejam aparentemente opostos, não o são de fato.
Allan Kardec, codificador da Doutrina Espírita, certa vez questionou aos seres extracorpóreos qual seria a melhor religião. Como resposta, obteve o seguinte: “A melhor religião é aquela que faz homens de bem”.  O que seria um “homem de bem”? “É aquele que ama a Deus sobre todas as coisas e ao seu semelhante como a si mesmo”. Quem é o meu semelhante? Toda a humanidade.  
Toda a humanidade? E quanto àqueles que pensam diferente de mim? E os que têm uma pele de cor diferente, que oram voltados para Meca, chamam Deus por outro nome, que usam turbante, que amam gente do mesmo sexo, que fazem ‘macumba’, que gostam de funk, que usam drogas, que ganham menos, que moram longe...? Eles não são como eu... Será? São seres humanos? Então, são exatamente iguais a você, caro leitor, e merecem o mesmo respeito e o mesmo direito de crer em Deus, ainda que de forma diferente, ou mesmo de não crer em coisa alguma. Cabe a cada um a escolha do caminho que lhe faz alguém melhor e não temos, nem devemos acreditar ter, o direito de julgar tais decisões.
“Aos outros eu dou o direito de ser como são, a mim, dou o dever de ser cada dia melhor.” (Chico Xavier)

sábado, 13 de julho de 2013

Eu e Outro

Acredito que a vida é regida por uma lei, a partir da qual toda ação individual tem um efeito, que retorna a nossa própria vida. Não se trata de punições ou gratificações pelas nossas atitudes, são apenas efeitos. Para usarmos uma analogia corriqueira, colhemos o que plantamos... Plantando espinhos, colheremos espinhos e não há como culpar a ninguém senão a nós mesmos. Se plantarmos flores, no entanto, colheremos flores e quanto mais belas as flores que plantarmos, mas belo o jardim que surgirá em torno de nós.Como, no entanto, plantar um jardim se a maioria de nós está sempre rodeada de espinhos? Como não deixar que as flores murchem em meio à podridão dos sentimentos que sempre nos envolve? 
Quase sempre nós, fixados no que não temos ou não podemos ter, movemos súplicas aos céus, cheios de auto piedade, e justificamos uma infelicidade egoísta, que tem origem no descontentamento. Na maioria das vezes, a felicidade é transferida a pessoas, objetos ou circunstâncias, mas o nome disso é satisfação. Uma satisfação momentânea, que logo se esvai e dá lugar, novamente, à contrariedade. Então, é comum que nos dirijamos a Deus, independentemente da crença que nos mova, em tom de cobrança como se fosse ele o culpado de nossa “infelicidade”.Acontece que todas as situações a que somos expostos na vida, mesmo as mais penosas, são oportunidades únicas para uma transformação interior. Felicidade, dessa forma, é questão de ser. Ela não está na beleza, na juventude, na fortuna sem limites... Está nos nossos próprios atos e nas virtudes que obtemos quando a vida nos impõe tragédias momentâneas. Para que serviriam as torpezas da vida se dela não extraíssemos o melhor, a parte que nos emite algum aprendizado, qualquer que seja.
A resposta é muito simples: somos parte de um todo e, ainda que tentemos pensar em uma felicidade individual, ela não existe (apenas sob a forma de uma satisfação momentânea). Por isso, somos felizes quando pensamos no todo, ou nas partes que nos rodeiam. Assim, uma forma de plantar um jardim é criar o hábito de fazer o bem àqueles que estão por perto. Não falo das grandes obras de caridade, ainda que estas sejam formas sublimes de cultivar belos jardins. Falo aqui das palavras amigas que podemos levar àqueles que sofrem por perto de nós. Não é difícil ser gentil e com palavras simples podemos cativar pessoas e transformar em flores os sentimentos delas a nosso respeito. Assim cresce o jardim, que se converte na verdadeira felicidade. Por isso, lembremo-nos cultivar o respeito e o carinho pelo outro, pelo desconhecido ou pelo familiar, e nos colocarmos no lugar deles antes de qualquer ato, antes de qualquer pensamento. Saibamos que Julgamentos, críticas venenosas, pensamentos invejosos ou sentimentos similares obscurecem nossa própria paz, pois, já que estamos todos ligados, o meu elo com o outro é a minha ligação comigo mesmo. Que tipo de vínculo você, caro leitor, deseja ter consigo mesmo?