Essa semana, eu fui obrigado a me atentar para o fato de que
esse sonho não é exclusividade minha e que há outras pessoas que têm que
enfrentar barreiras muito maiores para chegar ao mesmo lugar onde eu pretendo
estar. Nunca me esqueço do sonho que eu tive há algum tempo, há muito tempo, em
que eu tentava escalar grandes muros e muros ainda maiores surgiam. Hoje
compreendo, não completamente, mas sei dos muros que já tive que escalar antes
de atingir meu sonho e dos que ainda virão.
Mas nem tudo é dor,
nem a própria dor, pois de tudo se encontra algo bom, ou, simplesmente, uma
lição. As lições, acredito eu, são o motivo para nascermos e morrermos em uma
vida que não dura um segundo comparado à eternidade. Não morremos como
nascemos, pois, a vida, ainda que não nos demos conta ou insistamos em não usar
a dor como lição, nos ensina a sermos melhores e mais fortes.
Nunca me esqueço da analogia de um poeta, não me lembro exatamente
qual e peço perdão pela minha ignorância, mas ele comparava as pessoas à pipoca
e ao piruá. Para quem não teve uma infância recheada de sabores como eu tive, o
piruá é o milho que não virou pipoca. Assim, quando colocamos o milho no fogo
alguns se aproveitam dele para se tornar algo além do que eram, outros se
encrustam dentro de si e não se modificam... Como as pessoas... Algumas delas,
que se prendem à melancolia, ao sofrimento ou a certos valores injustificáveis.
Cegos que são, eles não conseguem ver nada além da própria dor. Egoístas
também, pois não veem a dor do outro.
O fogo... Quantas chamas as pessoas não enfrentam
diariamente e quantas ainda não irão enfrentar, muitas vezes pelos simples fato
de serem como são. Sim, a mídia não nos mostra tudo, nem somos capazes de
imaginar como é intensa a dor dos que não vemos, porque o que vemos é muito pouco
perto do que existe. Infelizmente, nossa sociedade ainda dá mais valor ao que
se compra do que ao que se sente e atribui ao que se sente valor de mercadoria.
Devo citar aqui, sem julgamentos, um fato que não deixou de chocar minha visão
restrita de mundo. Uma menina usa a internet para vender a um preço milionário
o próprio corpo, a própria dignidade. Isso me fez lembrar as pessoas que já
nascem com a dignidade vendida e não chegam sequer a atribuir ao valor ao próprio
corpo. Porque, nesse mundo ainda se insiste em dividir os indivíduos em
categorias de pessoas se são todos seres humanos? Por que características sociais,
étnicas, sexuais ou religiosas ainda são motivos para que se seja
inferiorizado, violentado ou apenas julgado? Ainda... Pois o menino que queria ser astronauta acredita que o mundo pode mudar... Não sozinho, mas com a ajuda daqueles que puderem ler essas palavras e
se dispuserem a mudar sus próprios mundos... Que se voltarem para si mesmas
passando a agir diante da própria dor como o milho que vira pipoca e, diante da
dor alheia, como se doesse dentro de si.
É a mudança que move o mundo e nunca é tarde para questionar
os velhos medos, valores e preconceitos.