sábado, 8 de fevereiro de 2014

Dividindo lições...


Há algum tempo, tenho comigo a reflexão que agora pretendo dividir com você, leitor... Sou muito jovem ainda para dizer o que aprendi com a vida. Direi mesmo assim, mas peço perdão se em algum momento em meu futuro eu me contradizer agindo de forma oposta. Não, meu amigo, não será hipocrisia. É que, como o grande Raul, sou uma metamorfose ambulante e prefiro ser assim que me prender demasiado às velhas opiniões, aos conceitos mortos e ao medo de ir contra o que eu acreditava há um segundo. Já mudei muito minhas opiniões e ainda pretendo mudar ao rever minhas atitudes, meus medos, meus defeitos...
Eis a primeira das coisas que aprendi em algum momento dos milhares de anos que cabem nesses vinte dois: Certas dificuldades nos preparam, simplesmente, para, no momento certo, lidarmos com responsabilidade diante das conquistas. Por isso, quanto mais forte você tiver de ser, com mais maturidade assumirá grandes postos e maior será sua alma para receber as coisas realmente boas da vida.
Aprendi também que é sempre importante assumir os próprios erros... Aos outros e a si mesmo. Isso é fundamental para a reparação desses equívocos e, principalmente, para limpar o caminho em torno de si e recomeçar. Recomeçar... Deparo-me, então, com outra grande lição: O recomeço... Ahh quantas vezes tive de recomeçar nos meus vinte e poucos anos... Encontrar forças para me recompor, traçar novas metas e transpor obstáculos dos mais diversos... A coragem é outra lição. Ela não nasce com os homens, como a maioria dos sentimentos, mas surge neles quando se percebe o quanto é inútil fugir porque certas situações nos perseguirão onde quer que formos até que as enfrentemos. Quando o fiz, ganhei marcas que me fizeram forte o suficiente para enfrentar as próximas batalhas com um sorriso no rosto. (mais uma lição) O sorriso é a arma mais poderosa que um ser humano possui... É ele que, das conversas banais às grandes negociações, destrói as montanhas da indiferença e converte qualquer sentimento em empatia. Não há face carrancuda que não se desmorone diante de um sorriso sincero e um gesto polido.
Há ainda algo que aprendi... O que fizer pelos outros, meu amigo, faça de coração. Jamais espere algum reconhecimento, pois qualquer consideração se vai quando o primeiro dos seus erros se tornar evidente. Há pessoas que ocupam muito mais seu pensamento com julgamentos que com a gratidão. Ainda assim, nunca deixe de fazer algo pelo outro! Não vai ser por ele realmente que o fará, ainda que pareça egoísta, fará por si mesmo. É que a paz interior que se obtém ao ajudar alguém é inigualável. Se toda a humanidade conhecesse esse prazer, o bem seria o maior dos vícios.  
Descobri também que a melhor forma de se levar a vida é realmente acreditar que “vai dar tudo certo”. Minha terapeuta tinha o costume de citar algum pensador, cujo nome não me recordo, e repetir a seguinte frase: Nem tudo está bem, mas está tudo certo. Não se trata de conformismo. Na verdade, é a única forma que conheço para continuar lutando por algo aparentemente impossível sem sofrer desnecessariamente, porque sofrer é uma escolha. Sei, meu amigo, que a auto piedade é um vício inconsciente para a maioria de nós. Quem nunca incrementou um problema com uma dúzia de detalhes imaginários só para sentir pena de si mesmo e dizer aos outros “Ah como eu sofro”? Acontece que esses detalhes imaginários podem se tornar reais, porque temos o maldito hábito de acreditar nas nossas próprias mentiras se as repetirmos muitas vezes. Então, somos alvos fáceis para uma dezena de mazelas mentais. De verdade, não queira estar nessa mira!
Há ainda algo a dizer... Faça o que puder para nunca magoar as pessoas, principalmente as que nunca te magoariam. Mas, se isso não for possível, não se deixe levar pela culpa. Seja sincero e humilde o suficiente para desculpar a si mesmo, pedir perdão ao outro e aprender com os próprios erros.  Ignore o rancor alheio, mas saiba reparar o mal cometido quando a vida lhe cobrar tal atitude. Se for você quem receber uma ofensa, perdoe... Só se sabe o tamanho da alma do ofendido quando ele é exposto a um pedido de perdão.
Diga bom dia a um desconhecido, ao menos uma vez... Não perca uma oportunidade de abraçar ou demonstrar o carinho que tem por alguém, pois não se sabe até quando essa pessoa estará por perto...
Por fim, esteja sempre disposto a aprender com a vida, visto que ela não faria sentido algum se morrêssemos como nascemos, ou nascêssemos como morremos, pois as vidas são belas escolas.

O resto do texto ainda não pode ser escrito, pois o aprender não tem fim e nunca terá... Mas, se nossa alma cresce a cada nova ideia, pode-se dizer que ela também será infinita, desde que nos permitamos a aprender.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O que te trouxe até aqui?




Escrevi esse texto para tentar convencer os meus calouros a aderir a um projeto apresentado a eles no inicio do curso, mas dei tanto de mim a essas palavras que eu não pude deixar de publicar aqui. Devo avisar que o que está escrito aqui não é para todos vocês (infelizmente)... Escolhemos nossas profissões por diversos motivos. Todos eles merecem respeito, mas eu dedico as palavras seguintes para aqueles de vocês que, como eu, um dia quiseram ser super-heróis.
Quando criança eu queria ser como o Super Homem, o Batman, o Homem Aranha ou como todos eles... Sim, eu queria voar pelos ares, ser forte e inteligente como eles e ter sempre uma bela donzela em perigo gritando alucinadamente por mim. Apesar disso, eu queria, principalmente, fazer a diferença na vida das pessoas.
Mais velho, procurei entre as profissões aquela que mais me aproximasse disso e, ainda que tudo me levasse a desistir, eu não via outro caminho a seguir. Foram muitas pedras no caminho... Em uma delas tropecei, quase cai e me esqueci, por um tempo, o que me trouxera até ali. Afastei-me de todas as pessoas, exceto daquelas que me amavam o suficiente para nunca me abandonar. Em meio a essa busca quase sem sentido, eis que venci. Vi, finalmente meu nome escrito naquele site... Não era bem uma lista, como imaginei, mas meu nome estava ali... A partir daquele instante fui bombardeado de pessoas e sorrisos desconhecidos e um convite quase assustador. Por que aceitei? Porque eu sentia a falta do mundo que havia abandonado por causa daquela maldita pedra e tinha dentro de mim a ansiosa vontade de recomeçar.
Lá, naquele lugar tão mágico, tive um encontro maravilhoso com meu eu pequeno...  Ele me perguntava: “O que nos trouxe até aqui?”. Eu, em pensamento, respondia: “Pessoas... O amor que eu sentia por elas... A vontade de fazer algo mais...”. Eu, então, senti, mais que nunca, a certeza de estar no caminho certo... Agradeci a Deus por não ter permitido que eu desistisse... Senti que todas as pedras valeram à pena para que eu estivesse ali, naquele instante, diante de mim mesmo.
Eis que retornei à Brasília sorrindo de uma orelha a outra e disposto a uma nova vida. Na primeira semana fui o calouro mais insano, ou um deles... Então o semestre começou de fato e vi alguns de meus colegas se matando por um SS e não consegui, como ainda não consigo, ver sentido algum nisso. ( Se você, como eu quando entrei na faculdade, ainda não sabe o que é um SS, substitua por um 10 nos tempos de ensino médio). De verdade, eu me decepcionei com meu curso... Não que eu esperasse uma matéria chamada “Como salvar o mundo em 24 horas”, mas eu não imaginava nossos pacientes mortos pudessem ser tão frios, nem que era tão desinteressante decorar, simplesmente decorar,  nomes e funções de cada minúsculo pedaço  deles. Foram noites e noites de estudo, muito mais que no ensino médio ou cursinho... Só continuei por que havia conhecido a parte humana do meu curso, uma semana antes das aulas começarem... Só continuei, continuo e vou continuar sempre, porque aceitei aquele convite.
Naquele lugar percebi, ainda que uma parte de mim já soubesse disso, que pacientes são muito mais que sua doença. Não importa que caminho eu vá seguir quando eu me formar, mas nunca pretendo me esquecer de como lidar com seres humanos, porque para isso é preciso também ser humano.

O que acontece nos dias de hoje é que médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e outros profissionais da saúde se esquecem de que seus pacientes não são mais os mortos gelados dos primeiros períodos e continuam a tratá-los como tal ou, pior que isso, eles tratam essas PESSOAS como partes dos defuntos mortos. As partes doentes... Esquecem-se de perguntar o que de fato as levou ao tal consultório ou o que levou os próprios profissionais até ali. Falta lembrar que somos integralmente seres humanos e tudo em nossas vidas influencia para o quadro geral de saúde ou doença. Falta o interesse em conhecer aqueles indivíduos em sua vida diária... Falta fazer a diferença... Acontece que não é preciso ter poderes para ser um herói, basta ter a vontade de ajudar alguém.