sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O fogo, a pipoca e o piruá

 
Essa semana, eu fui obrigado a me atentar para o fato de que esse sonho não é exclusividade minha e que há outras pessoas que têm que enfrentar barreiras muito maiores para chegar ao mesmo lugar onde eu pretendo estar. Nunca me esqueço do sonho que eu tive há algum tempo, há muito tempo, em que eu tentava escalar grandes muros e muros ainda maiores surgiam. Hoje compreendo, não completamente, mas sei dos muros que já tive que escalar antes de atingir meu sonho e dos que ainda virão.
 Mas nem tudo é dor, nem a própria dor, pois de tudo se encontra algo bom, ou, simplesmente, uma lição. As lições, acredito eu, são o motivo para nascermos e morrermos em uma vida que não dura um segundo comparado à eternidade. Não morremos como nascemos, pois, a vida, ainda que não nos demos conta ou insistamos em não usar a dor como lição, nos ensina a sermos melhores e mais fortes.
Nunca me esqueço da analogia de um poeta, não me lembro exatamente qual e peço perdão pela minha ignorância, mas ele comparava as pessoas à pipoca e ao piruá. Para quem não teve uma infância recheada de sabores como eu tive, o piruá é o milho que não virou pipoca. Assim, quando colocamos o milho no fogo alguns se aproveitam dele para se tornar algo além do que eram, outros se encrustam dentro de si e não se modificam... Como as pessoas... Algumas delas, que se prendem à melancolia, ao sofrimento ou a certos valores injustificáveis. Cegos que são, eles não conseguem ver nada além da própria dor. Egoístas também, pois não veem a dor do outro.
O fogo... Quantas chamas as pessoas não enfrentam diariamente e quantas ainda não irão enfrentar, muitas vezes pelos simples fato de serem como são. Sim, a mídia não nos mostra tudo, nem somos capazes de imaginar como é intensa a dor dos que não vemos, porque o que vemos é muito pouco perto do que existe. Infelizmente, nossa sociedade ainda dá mais valor ao que se compra do que ao que se sente e atribui ao que se sente valor de mercadoria. Devo citar aqui, sem julgamentos, um fato que não deixou de chocar minha visão restrita de mundo. Uma menina usa a internet para vender a um preço milionário o próprio corpo, a própria dignidade. Isso me fez lembrar as pessoas que já nascem com a dignidade vendida e não chegam sequer a atribuir ao valor ao próprio corpo. Porque, nesse mundo ainda se insiste em dividir os indivíduos em categorias de pessoas se são todos seres humanos? Por que características sociais, étnicas, sexuais ou religiosas ainda são motivos para que se seja inferiorizado, violentado ou apenas julgado? Ainda... Pois o menino que queria ser astronauta acredita que o mundo pode mudar... Não sozinho, mas com a ajuda daqueles que puderem ler essas palavras e se dispuserem a mudar sus próprios mundos... Que se voltarem para si mesmas passando a agir diante da própria dor como o milho que vira pipoca e, diante da dor alheia, como se doesse dentro de si.
É a mudança que move o mundo e nunca é tarde para questionar os velhos medos, valores e preconceitos.

sábado, 12 de maio de 2012

Enquanto eu dormia


Talvez eu já tenha mencionado essa história em algum dos textos anteriores, mas certa vez eu montei em uma mula e minhas mãos pequenas não tiveram força para segurar com firmeza as rédeas ou domar a fúria daquele animal, uma fúria inconsciente. O desespero tapou meus olhos e eu senti o roçar dos galhos arranharem meu corpo em uma velocidade que não podia controlar. Foi então que algo me fez acreditar que eu era forte o bastante para superar tudo aquilo. A coragem abriu meus olhos e surgiu diante deles o galho de uma goiabeira. Apertei com força e a mula seguiu sem mim.
É assim que eu descrevo o tempo que se passou desde minha última postagem decente. O fato é que me sinto como alguém que abre os olhos depois de um longo sono e, finalmente, passa a ver as coisas de forma racional. Como quando a coragem de abrir os olhos me mostrou o galho da goiabeira, dessa vez o que vejo é uma infinita quantidade de motivos para ser feliz. É isso que todo ser humano deveria ver, mas a maioria de nós perde tanto tempo se queixando do que não tem, não é ou não viveu que se esquece de ver o que tem, o que é, o que viveu e o que ainda vai viver.
Quando eu era pequeno, minha mãe costumava dizer que é enquanto dormimos que crescemos. Hoje sei que é a mais pura verdade, pois enquanto eu dormia esse sono amargo do desespero, cresci de uma forma que eu nunca havia imaginado. Dessa forma, o meu eu que acorda agora é bem maior que o pedaço de mim que dormiu há quase um ano. Esse eu sabe diferenciar, entre as pessoas que vê diariamente, as que merecem um “bom dia” e as que não podem receber menos que um abraço, pois esse abraço ainda é pouco perto do afeto de que são merecedoras. Enquanto as primeiras são os galhos que roçam e ferem nossos corpos e nossa sanidade, as segundas são o galho da goiabeira que sempre estão dispostas a nos proteger das justas injustiças da vida.
O novo eu sabe não julgar, não ferir e luta contra si mesmo para repelir todo e qualquer pensamento que lhe faça mal. Ele sabe que alguns pensamentos são como pragas que nós mesmos disseminamos dentro de nós e se os deixamos crescer eles se tornam os terríveis monstros como a mágoa, a inveja, ódio, a indiferença, o medo, o orgulho e todos esses males morais, que, às vezes, nascem em nós e adoecem nossa razão.   
Esse eu sabe esperar que essa mula chamada destino lhe mostre o galho da goiabeira para que ele possa segurar com força o que tanto busca.
Esse texto, embora seja público, não é mais que desabafo... Uma conversa entre eu e eu mesmo. Ainda assim, o dedico e dedicarei tudo o que eu fizer por toda a minha vida para meus galhos de goiabeira que estão comigo abrindo meus olhos e me fazendo acordar.