Por que será que a pequenez humana sempre me surpreende. A
sociedade atual é movida por estereótipos. Assim, roupas, bens, etnia, cor da
pele, religião, orientação sexual, cor do cabelo, peso e etc, são motivos o
suficiente para que seja estabelecido um perfil de personalidade, nada
confiável, por sinal, pois é baseado apenas na visão limitada e preconceituosa
que a maioria de nós insiste em manter. Entretanto, caro leitor, não há
definição para seres humanos, visto que, a partir do instante evolutivo em que
se tornaram racionais, passaram a ser capazes de definir a si mesmos.
É certo que as características podem contribuir para a
formação das personalidades ou refletir certos traços individuais, mas nunca
seriam capazes de, sozinhas, definirem um ser por serem apenas características.
Acontece, que diante da diversidade de formas, regras e
opiniões, a maioria de nós ainda insiste em ser inflexível. São raras, nas
discussões corriqueiras, as tentativas de modificar-se e tomar o ponto de vista
alheio, ainda que como teste, questionando o próprio modo de pensar. É fácil assimilar
os padrões da maioria e não há nada de errado nisso, exceto quando eles atingem
o ponto de ferir o diferente verbal ou fisicamente.
Há alguns dias, eu voltava para casa, com meu extinto cabelo
verde de calouro, quando fui abordado de uma forma nada educada por um grupo de
policiais. Reviraram meu carro, minha mochila e meus bolsos, pediram meus
documentos e, no meio deles, meu comprovante de matrícula.
_Você faz medicina?
_Sim.
_UnB?
_Sim
_Calouro?
_Sim.
Ele então apontou desconcertado para meu cabelo verde e
ainda perguntou:
_Foi trote?
Dessa vez, eu apenas abanei afirmativamente com a cabeça e
eles me deixaram ir. Depois, fiquei pensando na pequenez daquele comportamento.
Por que eu seria suspeito de algo simplesmente por ter cabelo verde? Por que eu
seria inocente por ser estudante de medicina? Nenhuma dessas características me
define como pessoa, porque,como você e o resto do mundo, caro leitor, eu sou o
conjunto das experiências que acumulei ao longo da minha existência e o que aprendi de positivo ou negativo com elas.
Sou um pouco de cada pessoa com que conversei, porque cada palavra me acrescentou
algo, mesmo que eu ainda não tenha a consciência exata de o quê.
Ainda assim, tento imaginar quando os padrões sociais
deixaram de se voltar para aspectos tão vazios do ser humano como a cor da
pele, a quantidade de recursos econômicos, os princípios religiosos
superficiais... e passaram a valorizar moralmente o indivíduo instigando-o a
ser ético, responsável, caridoso, gentil, respeitoso...
Uma amiga, que também estava de cabelo verde, teve uma
experiência parecida e espero que ela não se importe que eu reflita sobre isso
também. Quem a julga pela cor de seu cabelo não a merece, foi o que ela
disse... Concordei e, com meu jeito introspectivo, pensei que quem julga os
outros por suas características superficiais, todas elas, não merece receber a
indignação. Esses, não merecem sequer nossa atenção sincera, devido à pequenez
de seus atos e suas motivações.
Por isso, meu amigo, cuidado ao julgar alguém pelos
atributos visíveis aos olho... Se há uma certeza na vida, é que ela é
extremamente dinâmica. As situações se
alternam de forma incrível, ou assustadora. O fato é que nada impede de um dia
estarmos envolvidos nas situações que condenamos ou internamente inclinados
para as coisas que tanto julgamos. Então, percebemos de fato a pequenez dos
julgamentos para, quem sabe, aprendermos a agir de forma diferente... Nem
sempre aprendemos, mas, ainda assim, tivemos e temos todos os dias a oportunidade
de agir diferente. Agiremos diferente, um dia, e, como os adultos que riem das
traquinagens que cometia na infância, debocharemos de nós mesmos pela nossa
pequenez... Quando, enfim, evoluirmos a ponto de admitir que somos todos
igualmente falíveis e, da mesma forma, perfectíveis (capazes de atingir a
perfeição), levaremos nossas relações a um novo patamar e, na sociedade, os
padrões morais terão mais relevância que os padrões estéticos e sociais.
Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas não sou o único.
Eu sei que um dia viveremos isso e superaremos nossos mínimos defeitos.