segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Em nome de um nome...


Herdei o nome de um homem que foi grande em sua pequenez e soube levar a vida com a leveza de quem aprendeu a amar. Ele conheceu o amor em seu mais amplo aspecto e soube deixar um legado a ser seguido.... Uma herança que jamais se limitaria a sobrenomes ou títulos, bens ou tesouros materiais, pois abrange o que é verdadeiro... A pureza das formas e o efeito do sorriso, que nem sempre conseguimos distribuir como ele o fazia. Ainda assim, cabe a nós manter viva a chama de amor que ele acendeu em nosso peito.
Se souber olhar além do véu da matéria, qualquer um consegue perceber que a maioria de nossas angústias é passageira e, até certo ponto, banal. “Eu não tenho o carro do ano”, “minhas notas não são as melhores”, “aquela gordurinha perto do umbigo sempre aparece quando como chocolate”, “perdi quem eu amava”... Qual dessas demandas ainda o moveria daqui a um mês ou um ano? Qual desses conflitos é realmente relevante para que sua vida e a vida do outro sigam no rumo do Verdadeiro... O homem com meu nome sabia distinguir e não se deixar abater pelo medo ou ansiedade em relação ao que viria. Ele sabia que onde imperam as boas intenções, jamais faltará a base material para que elas se tornem reais. Mesmo que surjam as dificuldades, manter-se firme em um ideal nos faz colher depois a recompensa... Não... Não o façamos em busca dela... No entanto, é preciso ser sensível o bastante para saber-se recompensado de fato pelo simples fato de sentir-se útil fazendo algo pelo outro.  O orgulho que vem de dentro, em relação a si mesmo e as estar no seu caminho... Como o disse em outro texto, se a humanidade conhecesse a paz que há em uma boa ação, fazer o bem se tornaria o maior dos vícios...
 Sim, quando voltar para casa depois do bem feito, ainda te aguardarão os mesmos conflitos. Você, no entanto, terá colhido lições que te farão inexplicavelmente maior e saberá compreender que tudo passa. Terá a maturidade necessária para ser sincero consigo mesmo e dizer, se for preciso, “eu não sei o que fazer diante desta situação”. Então, de olhos fechados, pedirá e encontrará a paz e a confiança para lutar e buscar, caso valha à pena, ou, como na maioria de nossos dilemas banais, esquecer e partir... Novos rumos virão... Novas histórias... Novas verdades e novos silêncios... Novos versos... Novos motivos para fechar os olhos em um sorriso.
Cada um carrega, no fundo de sua alma, os anseios e motivos para seguir. Mas, como meu avô ensinou, só vale à pena viver se for para fazer a diferença, ainda que mínima, na vida de alguém. Só se tem a felicidade real quando se sabe colher as pequenas e diárias felicidades alheiras e viver por ai, cultivando flores em outros jardins pelo simples prazer de ver-lhes as cores... Pelo simples prazer de se fazer feliz na felicidade que o cerca. Só vale à pena viver se for para ser assim e, no final, o que sei de mim além de que fazer feliz é ser feliz e nada mais. O sorriso de paz onde imperavam lágrimas é e sempre será a maior das recompensas.
Onde estiver, quero que Ele nunca se esqueça da minha eterna gratidão e espero ainda merecer a honra de ter seu nome. Espero ainda merecer, em todos os aspectos, chamar-me MANOEL.  

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Só momentos que se foram...

Do quarto, ouço a TV ligada. Caminho até a sala e vejo que meu colega de república saiu e se esqueceu de apertar o desligar do aparelho... Acontece que o sofá, a mesa e as cadeiras ouviam alguém me descrever em um passado não muito distante enquanto falava sobre si. "Não sei se eu tenho autoconfiança para te olhar sem tremer ou gaguejar", é o que dizia a mulher na tela da TV. Foi então que eu lembrei de um tempo que tentei esquecer até perceber que era preciso encarar frente a frente para, finalmente, superar. Um tempo que nunca descrevi completamente, a não ser de uma forma abstrata. Quando eu me desviava das rodas de conversa por não saber me portar dentro delas... Quando eu precisava olhar para algum lugar para fugir dos olhos dos outros... Olhava para baixo ou para cima... nunca nos olhos...
 Lembrei da fila dos padrinhos no casamento da minha irmã, do céu azul, da grama verde e como foi sofrido estar ali, no que poderia ter sido um momento feliz...
Lembrei das noites em que eu acordava em meio a pesadelos... Dos olhos do sequestrador que me perseguiam nos sonhos, numa fila de supermercado, no meio da rua ou no dia do vestibular... Lembrei de quando parei de dormir para não sonhar e das olheiras que invadiram meu rosto. Lembrei da comida, que foi perdendo o sabor e se tornando mais uma obrigação para me manter vivo, quando eu já me considerava morto.
Lembrei dos murmúrios que eu ouvia como gritos nas salas panorâmicas do meu antigo cursinho e de como as pessoas me feriam ao falar acreditando não ser ouvidas. Eu? Eu só tinha medo.
Lembrei das vezes em que rezei para não existir e das em que me imaginei pulando da sacada do quarto do apartamento em que eu morava. Eu nunca quis morrer, mas quis muito não existir. Eu acreditava que, se eu não existisse, também não existiria aquela dor, que já se tornara física e apertava meu peito de uma forma que eu nunca soube descrever. Minha maior angústia era justamente saber que nem a morte me libertaria daquele pesadelo. Isso foi, no entanto, o que me manteve vivo e me ajudou a suportar o medo até ter forças para me livrar dele... A fé que minha mãe me ensinou e a que aprendi sozinho... Uma fé sem religião de quem aceita os fundamentos da Doutrina Espírita, mas se vê, no meio da tarde, em uma Igreja Católica orando fervorosamente por Nossa Senhora... De quem procura na Umbanda, no Candomblé, na meditação ou nas repetidas orações de uma novena o contato perdido com Deus e consigo mesmo.
Lembrei dos desenhos macabros que enchiam as páginas das apostilas e tapavam as letras, frases, parágrafos, fórmulas e tudo o que se dizia ser necessário saber para passar no vestibular... Lembrei, também, das coisas belas que surgiram quando aprendi a explorar a arte para mostrar a beleza que havia em mim, mas, antes, tive que descobrir que havia algo belo em algum lugar dentro de mim...
 Tudo começou naquele dia 15 de março, o sequestro, o rosto do sequestrador, as ameaças verbais, o transtorno pós-traumático...
 
Primeiro, me perdi na auto-piedade e uma das coisas que aprendi foi que ter pena de mim mesmo não resolve problema algum... Não, meu amigo, nas grandes lutas da vida é preciso ter coragem e maturidade para lidar com os problemas. Nesses momentos, curvar-se só te faz mais vulnerável aos ataques constantes da dor. Eu me curvei e doeu muito... Depois, aprendi que os problemas da vida se dividem entre os que se pode resolver e os que se resolvem por si. Então, não vale a pena demorar-se muito, nem gastar tanto o seu pensamento neles, pois isso abre portas para os tão temidos “males da alma”. Sejamos práticos, resolvendo ou deixando que os problemas se resolvam por si!
Hoje, diante daquele depoimento, percebi o quanto foram importantes para mim as poucas pessoas com quem compartilhei aquele momento... E, por elas, tenho saudade dos  intervalos de paz entre aos turbulentos ataques de mim mesmo. Dos intervalos das aulas, sob o Flamboyant florido, a parte bonita daquele cursinho macabro... Da Praça Sérgio Pacheco... Dos abraços apertados de irpai, os mimos de irmãe, a companhia da irmã do coração e companheira de vidas... Da comida de mãe, que foi ganhando o sabor conforme eu me sentia mais amado, e do pai durão que disse, pela primeira vez, “Eu te amo, meu filho”...  
Foi no amor, na fé e na arte que encontrei a saída... Agora, diante dessas lembranças tão raras, contradigo minhas próprias palavras. Aqueles momentos não foram os piores, nem os melhores. Foram tão bons quanto ruins... Foram intensos... Só momentos que se foram...

sábado, 20 de setembro de 2014

A Pasárgada

Eu costumava ser mais favorável às esquerdas... Naquele tempo, eu acreditava que a igualdade social plena seria a forma mais eficaz de conter o sofrimento... Depois,com minha própria dor, descobri que nem todo sofrimento é material...  Mas isso é coisa para outra história...
No segundo ano do ensino médio, para um trabalho multidisciplinar, li “ O manifesto do partido comunista” e saí fanaticamente, na exacerbação de meus hormônios juvenis, esbravejando que aquela era a solução, mas fiquei profundamente decepcionado quando descobri o que fizeram da doutrina de Marx. Olhei a política ao meu redor e parei de crer em uma solução. Tornei-me, como os da minha geração, um ser apolítico, apático em relação ao mundo, que faz mais por si que pelo outro ou pelo todo, sem um pensamento ou ideologia definida, que segue a vida por seguir, mesmo não se sentindo bem com a indiferença, e que não sabe em quem votar nas eleições...
Mas, sobre sistemas de governo, eu, na minha humilde e pouco politizada ilusão, penso ainda em um mundo sem governo, sem dinheiro e sem dor, onde a única lei seria a lei do amor. “Ame ao próximo como a ti mesmo”... Ame a ti mesmo... Ame ao próximo...
Nesse mundo imaginário, todos teriam as mesmas oportunidades, mas suas diferenças seriam levadas em consideração. Não se escolheria uma carreira por dinheiro, mas pelas próprias aptidões e todas as funções teriam o mesmo valor, sendo exercidas com o prazer de fazer-se útil ao todo. Não se faria o mal ao outro, a si, nem ao que seria de todos... Cada ser humano seria capaz de reconhecer em tudo o que o cercasse algo digno de seu cuidado, atenção e, principalmente, do tempo, que nunca lhe pertenceu, mas sempre chamou de seu.
Matar? Roubar? O integrante dessa sociedade desconheceria tudo o que é indigno da atenção humana... Ele não se deteria aos pequenos e mundanos desprazeres, não saberia desfazer o bem, não saberia desamar e não conheceria a dor...  
Então, chegaria o dia em que, sabedores de que ainda havia sofrimento em algum lugar do Universo, alguns desses indivíduos sairiam a pregar a sua paz e migrariam para outros cantos... Seriam notáveis e visivelmente diferentes do todo... Sofreriam por isso... Talvez se sentissem impotentes diante de tanta loucura... Tanta dor... Pode ser que ficassem loucos também... Mas, ainda assim, amariam ao próximo... Ainda que o próximo desconhecesse o amor, eles o ensinariam como sorrir nos momentos mais impróprios.
No meio da imperfeição, eles descobririam seus próprios defeitos... Suas fraquezas tão humanas... Talvez se culpassem por elas, até descobrirem que a culpa é um entrave para o amor, pois não ama a si mesmo quem se sente culpado. Também não ama ao próximo, por que só se ama realmente alguém, depois que se aprende a amar a si mesmo. 
Então, conhecendo-se melhor e amando melhor, eles voltariam para casa. Lavariam seus pés, repousariam seus corpos, dormiriam em seus leitos macios e matariam a saudade dos que ficaram. Na manhã seguinte, veriam o nascer do sol e descansariam seus olhos com a visão dos belos jardins. Então, diriam à pessoa amada: É hora de partir novamente, pois ainda há dor. Volto em breve, para um novo repouso.
 
 

sábado, 28 de junho de 2014

Muitas vidas em uma só...


Essa manhã, fui surpreendido com a seguinte reflexão:
“Você vive a vida de forma a querer a mesma vida sempre? Em outras palavras, você gostaria de repetir a mesma vida que tem agora eternamente?
Então, resolvi deixar de lado a matéria acumulada em um semestre (antes de uma semana com quatro provas seguidas) e me vi, simplesmente, a pensar e a escrever meus pensamentos para dividir em um blog, ultimamente, pouco utilizado.
Não há dúvida alguma de que estou feliz. Tenho provado a vida como quem degusta um bom vinho e talvez, seja esse o segredo do meu estado de espírito. Não tem tanto haver com ter realizado meu sonho, até porque minha euforia de calouro já passou faz tempo. É que, finalmente, aprendi a sentir o sabor das coisas boas e ruins de cada etapa. Acho que compreendi que estamos na vida para aprender ou por que eu aprendi a ser leve para navegar, sem precisar remar contra ou a favor da corrente e deixar que a vida  me leve para qualquer lugar e qualquer situação com a certeza de que, no final, vai dar tudo certo.

 Ainda assim, eu não gostaria de viver eternamente a mesma vida, nem acredito que isso seja possível... Afinal, a existência física é tão modificável porque nós o somos e as situações com as quais somos surpreendidos em nossas vidas são, de certa forma, consequência das nossas necessidades espirituais e da nossa realidade evolutiva naquele instante. Tudo isso acaba por alterar nossa postura diante dos desafios que a vida nos impõe. Mesmo quando resistimos ao aprendizado, chega um momento em que superamos aquela etapa e somos levados a buscar novos rumos. Cada experiência, assim, seria diferente em momentos diferentes do nosso crescimento, porque nós não agiríamos da mesma forma... A questão está em "viver como os homens do seu tempo", mas com a consciência de que cada ação tem uma consequência... Aproveitar ao máximo o momento e as experiências, mas sem faltas nem excessos, tentado crescer com tudo o que vem de encontro à nossas histórias...
 Só não vale à pena se desgastar com o futuro, nem com o passado ou perder a oportunidade de ser feliz agora. Mesmo que tudo pareça ruim, há sempre um bom motivo para sorrir, ainda que seja gargalhar das ironias que o destino tenha te proporcionado brincando com sua rota e te jogando de um lado para o outro. Ainda que você esteja perdido e não tenha a menor ideia do caminho a seguir, vale a pena sorrir... Sorrir para o sol que nasce, para o céu que é azul, mesmo que esteja cinza, para o som das aves cantando, ainda que ofuscado pelas buzinas dos carros, ou a lembrança dos momentos especiais. Vale à pena fazer do sorriso uma cicatriz no do seu rosto...

Também vale à pena conhecer gente nova e se permitir a uma boa conversa com alguém que esteja ao seu lado na monotonia de uma viagem de ônibus ou no ócio necessário de uma fila de banco. Vale a pena ser amigo de alguém, sem julgamentos ou pré- definições, pois não se escolhe amizades por critério nenhum... Amigos são as pessoas que a vida coloca por um tempo ao seu lado para que ambos cresçam com a convivência e descubram cada um o seu caminho, mas a lembrança do tempo compartilhado é e sempre será eterna.
Assim o sabor da vida está em reconhecer que ela é passageira e não se apegar a momento algum, porque momentos passam, caminhos se separam, mas lembranças ficam, mesmo quando a memória se vai. E assim vamos vivendo muitas vidas em uma só...

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Sempre em frente...


Ninguém erra por querer, ou não seria um erro. Errar é fazer algo ruim partindo de uma boa intenção.
 Dizem que o inferno está cheio de boas intenções... Eu não sei dizer... Já faz muito tempo desde que estive lá... E quem pode dizer que nunca esteve se não se lembra?
  Sei, no entanto, que somos todos falíveis e não querer errar ou não se assumir capaz disso, pode nos levar a cometer erros muito maiores...  Errar com pessoas não é algo que se faz... Tentar concertar, então, é o mínimo que se pode fazer...
E quando não se pode voltar atrás?
Siga em frente!
Assumir seu erro é o primeiro passo... Diga a si mesmo: Eu fiz algo que não faria novamente e não importa se foi ou não por intenção, o feito está feito e fui eu quem fiz...
O segundo passo é perdoar-se... Nenhuma alma consegue seguir em frente se tem na mala uma culpa... A culpa e pesada demais para qualquer um carregar... Jogue-a na primeira curva dessa estrada e não pense mais nisso. Um dia, nossos erros virão até nós e teremos a chance de refazer e desfazer o feito e o não feito, o dito e o não dito.
Então, além da culpa, jogue tudo o que estiver em sua mala e envolver aquela estória, exceto o que se tenha aprendido com ela, e siga em frente, sem lágrimas, nem músicas e sem direito a voltar... Permita a si mesmo um novo começo.
E quem me topar pela estrada, se for levar algo de mim, espero que leve o que for bom, pois o rancor é tão pesado quanto a culpa... Nenhum deles te deixa prosseguir  e nenhum deles te leva a lugar algum...
Assim partiremos ao desconhecido e ao conhecido com a visão de quem o desconhece, pois seremos novos, desfeitos e refeitos, dispersos pelo mundo, sem hora pra partir ou dia pra voltar, sem rumo pra viver como quem simplesmente vive. Então viva!  

sábado, 17 de maio de 2014

As palavras não ditas e os Mundos não vistos...


São momentos corriqueiros, conversas ou debates em que você se vê fingindo concordar com opiniões que divergem totalmente da sua só para não fugir da modelo simplista, mediano e, às vezes, preconceituoso. O que você teme? Ser julgado por não julgar?
Nos meus tempos de escola, a diversão de alguns dos meus colegas era humilhar com suas piadas um colega deficiente. Nunca concordei com tudo aquilo, mas guardei comigo como se discordar fosse um crime... Ainda guardo, com a certeza de que eu poderia ter feito algo.
Hoje eu compreendo o quanto fui egoísta e como poderia ter contribuído mais com o mundo sendo eu mesmo e admitindo que nem sempre o que a maioria acredita ser certo o é de fato. Mas continuo agindo assim, continuo a me omitir dos assuntos polêmicos por medo de gerar antipatia. Muitas vezes, eu escondo o que eu penso e com isso deixo que pessoas fora da conversa se ofendam com os comentários que eu respondi com o silêncio... É como se eu concordasse com eles. E assim vou concordando com o mundo do jeito que está. Indiferente à mediocridade e permitindo que ela se sobressaia.
NÃO!!!! Não é isso que eu vim fazer no mundo...  
Às vezes a vida cobra de nós uma atitude. Palavras ditas em tons diversos... Ainda que em um sussurro... Mesmo que você vá se arrepender depois... É preciso dizer o que pensa. Não falo aqui das pessoas que confundem grosseria com sinceridade, falo de ser sincero consigo primeiro e transmitir isso aos outros, sem medo... Quem nunca julgou alguém? Quem nunca foi julgado? Por que ter medo do que pensam? Por que ter medo de se contrapor ao pensamento alheio? O Maior dos homens não nos disse para não esconder a candeia sob o alqueire? Sim, Ele disse que de nada adianta ter a luz dentro de si se ela fica oculta.
 O medo de não ser aceito é o pior dos inimigos de quem tem algo a dizer, mas sempre haverá quem discorde e quem se contemple com cada sílaba do que você disser... Apenas diga e se o outro tiver um argumento melhor, aceite. Mude de opinião quantas vezes for preciso, desde que isso te faça alguém melhor... Desde que isso amplie seu mundo e ele se torne maior... Só não se cale e não aceite opiniões menores que as suas, de mundos menores... Não ofenda, nem se deixe ofender pela pequenez dos outros, pois, ao mostrar a ele seu mundo, ele pode crescer também ou mostrar outro argumento para que ambos cresçam juntos...
Cada um traz consigo uma mala cheia de objetos acumulados dos caminhos pelos quais passou... Eu trago sorrisos, lágrimas, poemas, medos, músicas, livros, pessoas, lugares... Esse é o meu mundo e disso se faz meu pensamento, minhas opiniões e aptidões. Quando tudo isso choca com objetos de outros mundos só pode haver crescimento, desde que nenhum dos lados se prenda a pré-julgamentos... Desde que ambos estejam dispostos a ampliar seus mundos...  

sábado, 22 de março de 2014

Nem única, nem eterna... Só bonita


 
Muitos meses se passaram e eu ainda acordo com a sensação de estar sonhando. Muita coisa aconteceu...  
Como o astronauta que eu quis ser, fiz minhas malas e parti para o Espaço. Guardei na bagagem minha velha vontade de mudar o mundo, mas deixei lá no fundo um espaço vazio. Eu sabia que a cada passo nessa estrada o pingo de saudade que havia ali se tornaria maior. Hoje, é infinita, mas isso não me entristece... Sei que só se pode ter saudade de algo que, ainda que por um mísero instante, nos fez feliz. Por isso, o tamanho da minha saudade só reflete a quantidade de momentos em que sorri nessa minha vida curta. Sim, guerras de barro, jabuticaba no pé, correr das ondas e o “pium pium”... Abraço apertado de pai, colo de mãe, meu irmão fingindo que morreu, minha irmã dizendo que sou adotado, o chorinho do bebê... Meu nome brilhando naquela tela, não em uma lista... E os irmãos que fiz ao longo do caminho, foram poucos, reconheço, mas são para sempre? E o momento em que eu disse “Eu te conheço de algum lugar?”... Será que eu de fato a conhecia a conhecia? E as derrotas? E os tropeços? E o que o aprendi? Sim... Se há uma coisa que eu não posso negar é que fui e sou feliz, fui e sou amado e é essa a fonte da minha saudade, como é também a fonte da minha felicidade...
Dias como hoje, em que a chuva te prende entre as paredes de um lar desconhecido e se quer regredir à infância sempre vão existir... Se eu fechar os olhos sei que posso ver... É a cozinha da minha velha casa. Meu irmão, na mesa, tem olhos pidões para o fogão e minha irmã meche a calda do bolo de chocolate enquanto minha mãe lava a louça. Ouço a TV ligada. É meu pai que cochila vendo o jogo de futebol... Passo um pouco a roda do tempo, mas ainda é sábado e ainda chove. As luzes do cinema se apagam lentamente, o filme vai começar, mas eu não quero ver o passarinho azul que canta em português, prefiro o reflexo dele nesses olhos verde-azuis... “Avise quando for me olhar!”, “Estou te olhando!”...
 Mas se há uma coisa nessa vida da qual não posso discordar é que tudo o que material é passageiro... Momentos, lugares, pessoas... Há, no entanto, uma forma de torna-las eternas... É guardar tudo isso de forma imaterial lá no fundo de si mesmo, carregado de sentimentos para que nunca se dissipe... Fica na memória e, mesmo que a própria memória deixe de existir, há sempre algo no inconsciente que lhe diz: Eu conheço de algum lugar... É impossível esquecer o que nos fez feliz, mas é burrice querer que tudo volte a ser como era, se a vida lhe mostra outros caminhos. Apego não é saudade. A saudade é a lembrança boa, que revigora e estimula a continuar. O apego não faz bem a alma nenhuma. O que faz bem é a liberdade, o prazer de acrescentar novos vínculos, novas memórias, novas histórias para contar... Guardando sempre os velhos motivos para sorrir e não há motivo mais belo do que a gratidão por estar vivo. Sinto por ter perdido momentos e oportunidades de sugar o melhor dos melhores momentos da minha vida por não saber o quanto, em sua simplicidade, eles seriam eternos... Sinto por não ter prendido entre os dentes o pão de queijo da minha mão para sentir o gosto por mais tempo... Fui guloso e comi de uma vez, porque queria logo que o tempo passasse... Que imaturidade a minha, pois o tempo vai passar de qualquer jeito, apesar ou contra a minha vontade e não há nada que eu possa fazer além de viver os momentos da melhor forma possível... Mas há sempre a chance de começar a agir e reconhecer que não se pode controlar o tempo, que algumas situações são inevitáveis, que nenhum instante acontecerá outra vez e apreciar a vida, não como se fosse única, nem como se fosse eterna, mas com a sabedoria de quem quer levar consigo o melhor de tudo o que houver em seu caminho.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Dividindo lições...


Há algum tempo, tenho comigo a reflexão que agora pretendo dividir com você, leitor... Sou muito jovem ainda para dizer o que aprendi com a vida. Direi mesmo assim, mas peço perdão se em algum momento em meu futuro eu me contradizer agindo de forma oposta. Não, meu amigo, não será hipocrisia. É que, como o grande Raul, sou uma metamorfose ambulante e prefiro ser assim que me prender demasiado às velhas opiniões, aos conceitos mortos e ao medo de ir contra o que eu acreditava há um segundo. Já mudei muito minhas opiniões e ainda pretendo mudar ao rever minhas atitudes, meus medos, meus defeitos...
Eis a primeira das coisas que aprendi em algum momento dos milhares de anos que cabem nesses vinte dois: Certas dificuldades nos preparam, simplesmente, para, no momento certo, lidarmos com responsabilidade diante das conquistas. Por isso, quanto mais forte você tiver de ser, com mais maturidade assumirá grandes postos e maior será sua alma para receber as coisas realmente boas da vida.
Aprendi também que é sempre importante assumir os próprios erros... Aos outros e a si mesmo. Isso é fundamental para a reparação desses equívocos e, principalmente, para limpar o caminho em torno de si e recomeçar. Recomeçar... Deparo-me, então, com outra grande lição: O recomeço... Ahh quantas vezes tive de recomeçar nos meus vinte e poucos anos... Encontrar forças para me recompor, traçar novas metas e transpor obstáculos dos mais diversos... A coragem é outra lição. Ela não nasce com os homens, como a maioria dos sentimentos, mas surge neles quando se percebe o quanto é inútil fugir porque certas situações nos perseguirão onde quer que formos até que as enfrentemos. Quando o fiz, ganhei marcas que me fizeram forte o suficiente para enfrentar as próximas batalhas com um sorriso no rosto. (mais uma lição) O sorriso é a arma mais poderosa que um ser humano possui... É ele que, das conversas banais às grandes negociações, destrói as montanhas da indiferença e converte qualquer sentimento em empatia. Não há face carrancuda que não se desmorone diante de um sorriso sincero e um gesto polido.
Há ainda algo que aprendi... O que fizer pelos outros, meu amigo, faça de coração. Jamais espere algum reconhecimento, pois qualquer consideração se vai quando o primeiro dos seus erros se tornar evidente. Há pessoas que ocupam muito mais seu pensamento com julgamentos que com a gratidão. Ainda assim, nunca deixe de fazer algo pelo outro! Não vai ser por ele realmente que o fará, ainda que pareça egoísta, fará por si mesmo. É que a paz interior que se obtém ao ajudar alguém é inigualável. Se toda a humanidade conhecesse esse prazer, o bem seria o maior dos vícios.  
Descobri também que a melhor forma de se levar a vida é realmente acreditar que “vai dar tudo certo”. Minha terapeuta tinha o costume de citar algum pensador, cujo nome não me recordo, e repetir a seguinte frase: Nem tudo está bem, mas está tudo certo. Não se trata de conformismo. Na verdade, é a única forma que conheço para continuar lutando por algo aparentemente impossível sem sofrer desnecessariamente, porque sofrer é uma escolha. Sei, meu amigo, que a auto piedade é um vício inconsciente para a maioria de nós. Quem nunca incrementou um problema com uma dúzia de detalhes imaginários só para sentir pena de si mesmo e dizer aos outros “Ah como eu sofro”? Acontece que esses detalhes imaginários podem se tornar reais, porque temos o maldito hábito de acreditar nas nossas próprias mentiras se as repetirmos muitas vezes. Então, somos alvos fáceis para uma dezena de mazelas mentais. De verdade, não queira estar nessa mira!
Há ainda algo a dizer... Faça o que puder para nunca magoar as pessoas, principalmente as que nunca te magoariam. Mas, se isso não for possível, não se deixe levar pela culpa. Seja sincero e humilde o suficiente para desculpar a si mesmo, pedir perdão ao outro e aprender com os próprios erros.  Ignore o rancor alheio, mas saiba reparar o mal cometido quando a vida lhe cobrar tal atitude. Se for você quem receber uma ofensa, perdoe... Só se sabe o tamanho da alma do ofendido quando ele é exposto a um pedido de perdão.
Diga bom dia a um desconhecido, ao menos uma vez... Não perca uma oportunidade de abraçar ou demonstrar o carinho que tem por alguém, pois não se sabe até quando essa pessoa estará por perto...
Por fim, esteja sempre disposto a aprender com a vida, visto que ela não faria sentido algum se morrêssemos como nascemos, ou nascêssemos como morremos, pois as vidas são belas escolas.

O resto do texto ainda não pode ser escrito, pois o aprender não tem fim e nunca terá... Mas, se nossa alma cresce a cada nova ideia, pode-se dizer que ela também será infinita, desde que nos permitamos a aprender.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O que te trouxe até aqui?




Escrevi esse texto para tentar convencer os meus calouros a aderir a um projeto apresentado a eles no inicio do curso, mas dei tanto de mim a essas palavras que eu não pude deixar de publicar aqui. Devo avisar que o que está escrito aqui não é para todos vocês (infelizmente)... Escolhemos nossas profissões por diversos motivos. Todos eles merecem respeito, mas eu dedico as palavras seguintes para aqueles de vocês que, como eu, um dia quiseram ser super-heróis.
Quando criança eu queria ser como o Super Homem, o Batman, o Homem Aranha ou como todos eles... Sim, eu queria voar pelos ares, ser forte e inteligente como eles e ter sempre uma bela donzela em perigo gritando alucinadamente por mim. Apesar disso, eu queria, principalmente, fazer a diferença na vida das pessoas.
Mais velho, procurei entre as profissões aquela que mais me aproximasse disso e, ainda que tudo me levasse a desistir, eu não via outro caminho a seguir. Foram muitas pedras no caminho... Em uma delas tropecei, quase cai e me esqueci, por um tempo, o que me trouxera até ali. Afastei-me de todas as pessoas, exceto daquelas que me amavam o suficiente para nunca me abandonar. Em meio a essa busca quase sem sentido, eis que venci. Vi, finalmente meu nome escrito naquele site... Não era bem uma lista, como imaginei, mas meu nome estava ali... A partir daquele instante fui bombardeado de pessoas e sorrisos desconhecidos e um convite quase assustador. Por que aceitei? Porque eu sentia a falta do mundo que havia abandonado por causa daquela maldita pedra e tinha dentro de mim a ansiosa vontade de recomeçar.
Lá, naquele lugar tão mágico, tive um encontro maravilhoso com meu eu pequeno...  Ele me perguntava: “O que nos trouxe até aqui?”. Eu, em pensamento, respondia: “Pessoas... O amor que eu sentia por elas... A vontade de fazer algo mais...”. Eu, então, senti, mais que nunca, a certeza de estar no caminho certo... Agradeci a Deus por não ter permitido que eu desistisse... Senti que todas as pedras valeram à pena para que eu estivesse ali, naquele instante, diante de mim mesmo.
Eis que retornei à Brasília sorrindo de uma orelha a outra e disposto a uma nova vida. Na primeira semana fui o calouro mais insano, ou um deles... Então o semestre começou de fato e vi alguns de meus colegas se matando por um SS e não consegui, como ainda não consigo, ver sentido algum nisso. ( Se você, como eu quando entrei na faculdade, ainda não sabe o que é um SS, substitua por um 10 nos tempos de ensino médio). De verdade, eu me decepcionei com meu curso... Não que eu esperasse uma matéria chamada “Como salvar o mundo em 24 horas”, mas eu não imaginava nossos pacientes mortos pudessem ser tão frios, nem que era tão desinteressante decorar, simplesmente decorar,  nomes e funções de cada minúsculo pedaço  deles. Foram noites e noites de estudo, muito mais que no ensino médio ou cursinho... Só continuei por que havia conhecido a parte humana do meu curso, uma semana antes das aulas começarem... Só continuei, continuo e vou continuar sempre, porque aceitei aquele convite.
Naquele lugar percebi, ainda que uma parte de mim já soubesse disso, que pacientes são muito mais que sua doença. Não importa que caminho eu vá seguir quando eu me formar, mas nunca pretendo me esquecer de como lidar com seres humanos, porque para isso é preciso também ser humano.

O que acontece nos dias de hoje é que médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e outros profissionais da saúde se esquecem de que seus pacientes não são mais os mortos gelados dos primeiros períodos e continuam a tratá-los como tal ou, pior que isso, eles tratam essas PESSOAS como partes dos defuntos mortos. As partes doentes... Esquecem-se de perguntar o que de fato as levou ao tal consultório ou o que levou os próprios profissionais até ali. Falta lembrar que somos integralmente seres humanos e tudo em nossas vidas influencia para o quadro geral de saúde ou doença. Falta o interesse em conhecer aqueles indivíduos em sua vida diária... Falta fazer a diferença... Acontece que não é preciso ter poderes para ser um herói, basta ter a vontade de ajudar alguém.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

O que o rio não leva...


Não é a primeira vez que deixo de escrever por um tempo. A verdade é que sempre retorno quando sinto a necessidade de falar sobre algo.

Nos últimos meses, com o sonho realizado, quase não tive tempo para pensar ou escrever... Minha vida era um turbilhão de novidades em que as situações se alternavam sem que eu tivesse tempo para refletir ou dividir meus pensamentos. Minha energia esteve voltada para questões mais técnicas como decorar nomes, examinar corpos inertes, fazer amigos... Mas hoje, quando a tarde terminava, parei pra pensar de novo na minha vida e resolvi contar mais um sonho.

A minha vida, como a sua, leitor amigo, é um eterno devir... Como dizia Heráclito, filósofo grego que conheci nos meus tempos de vestibulando, ela é um fluxo sem fim de coisas, momentos, pessoas, lugares... Mas, como dizia Platão (outro que conheci na mesma época) só a vida material é assim, uma realidade abstrata e transitória da qual pouco levamos além do que nós aprendemos, dos afetos verdadeiros e das boas lembranças. O resto segue com o rio que nos banha, aquele que deixa de ser o mesmo ao passar por nós  

Os aprendizados, na maioria das vezes, nos vêm pela dor... Quanto maior e mais profunda essa sensação, mais intensa a reflexão dos maus passos que nos feriram. Então, recomeçamos e seguimos outra direção, ou a mesma para sofrer repetidas vezes até, finalmente aprendermos o que nos faz e o que não nos faz feliz. Quantas vezes é preciso errar para aprender a fazer a coisa certa? Cada um tem seu próprio tempo.

Os afetos verdadeiros, tão raros quanto intensos, são os que conseguem despir-se dos apelos materiais, do apego, do ciúme, do orgulho, da inveja, da vaidade, do egoísmo e de todas essas sensações tão baixas quanto transitórias. É, principalmente, sentir-se feliz com a felicidade do outro.

Por fim, ficam as boas lembranças... Vi em algum lugar que a saudade é um privilégio, pois só a sente quem já viveu coisas boas o suficiente para não saber esquecer. A sabedoria, no entanto, está em deixar ir, não fazer das lembranças uma prisão. O agora é o único momento que vale à pena ser vivido... Ainda assim, as lembranças, quando boas, deixam mais leves as vivências futuras. Quando más, elas nos levam a cultivar um futuro mais rico em boas emoções.

Sendo assim, o que é a felicidade? É a busca de coisas eternas, como diria o velho Platão? Pode ser... Mas tenhamos em mente as lembranças dos momentos passageiros também são eternas. Alimentar nosso ser interior e distinguir o verdadeiro do falto é mais que importante para vivermos bem, mas, vez ou outra, é preciso que nos permitamos a viver como os homens do nosso tempo e alimentemos também o nosso corpo. Essas, desde que na justa medida, são excelentes oportunidades de ampliar nossos afetos e povoar nossa memória de momentos inesquecíveis e, de tal forma, eternos em meio ao devir que chamamos vida.

 Mas cada um tem seu tempo e carrega dentro de si as verdade de que precisa para ser feliz. Elas ficam escondidas em algum lugar lá dentro até que chega a hora do grande encontro de si consigo.