Muitos meses se passaram e eu ainda acordo com a sensação de
estar sonhando. Muita coisa aconteceu...
Como o astronauta que eu quis ser, fiz minhas malas e parti
para o Espaço. Guardei na bagagem minha velha vontade de mudar o mundo, mas
deixei lá no fundo um espaço vazio. Eu sabia que a cada passo nessa estrada o
pingo de saudade que havia ali se tornaria maior. Hoje, é infinita, mas isso
não me entristece... Sei que só se pode ter saudade de algo que, ainda que por
um mísero instante, nos fez feliz. Por isso, o tamanho da minha saudade só
reflete a quantidade de momentos em que sorri nessa minha vida curta. Sim,
guerras de barro, jabuticaba no pé, correr das ondas e o “pium pium”... Abraço apertado
de pai, colo de mãe, meu irmão fingindo que morreu, minha irmã dizendo que sou
adotado, o chorinho do bebê... Meu nome brilhando naquela tela, não em uma
lista... E os irmãos que fiz ao longo do caminho, foram poucos, reconheço, mas
são para sempre? E o momento em que eu disse “Eu te conheço de algum lugar?”...
Será que eu de fato a conhecia a conhecia? E as derrotas? E os tropeços? E o
que o aprendi? Sim... Se há uma coisa que eu não posso negar é que fui e sou
feliz, fui e sou amado e é essa a fonte da minha saudade, como é também a fonte
da minha felicidade...
Dias como hoje, em que a chuva te prende entre as paredes de
um lar desconhecido e se quer regredir à infância sempre vão existir... Se eu
fechar os olhos sei que posso ver... É a cozinha da minha velha casa. Meu irmão,
na mesa, tem olhos pidões para o fogão e minha irmã meche a calda do bolo de
chocolate enquanto minha mãe lava a louça. Ouço a TV ligada. É meu pai que cochila
vendo o jogo de futebol... Passo um pouco a roda do tempo, mas ainda é sábado e
ainda chove. As luzes do cinema se apagam lentamente, o filme vai começar, mas
eu não quero ver o passarinho azul que canta em português, prefiro o reflexo
dele nesses olhos verde-azuis... “Avise quando for me olhar!”, “Estou te olhando!”...
Mas se há uma coisa
nessa vida da qual não posso discordar é que tudo o que material é
passageiro... Momentos, lugares, pessoas... Há, no entanto, uma forma de
torna-las eternas... É guardar tudo isso de forma imaterial lá no fundo de si
mesmo, carregado de sentimentos para que nunca se dissipe... Fica na memória e,
mesmo que a própria memória deixe de existir, há sempre algo no inconsciente
que lhe diz: Eu conheço de algum lugar... É impossível esquecer o que nos fez
feliz, mas é burrice querer que tudo volte a ser como era, se a vida lhe mostra
outros caminhos. Apego não é saudade. A saudade é a lembrança boa, que revigora
e estimula a continuar. O apego não faz bem a alma nenhuma. O que faz bem é a
liberdade, o prazer de acrescentar novos vínculos, novas memórias, novas
histórias para contar... Guardando sempre os velhos motivos para sorrir e não
há motivo mais belo do que a gratidão por estar vivo. Sinto por ter perdido
momentos e oportunidades de sugar o melhor dos melhores momentos da minha vida
por não saber o quanto, em sua simplicidade, eles seriam eternos... Sinto por
não ter prendido entre os dentes o pão de queijo da minha mão para sentir o
gosto por mais tempo... Fui guloso e comi de uma vez, porque queria logo que o
tempo passasse... Que imaturidade a minha, pois o tempo vai passar de qualquer
jeito, apesar ou contra a minha vontade e não há nada que eu possa fazer além
de viver os momentos da melhor forma possível... Mas há sempre a chance de começar
a agir e reconhecer que não se pode controlar o tempo, que algumas situações
são inevitáveis, que nenhum instante acontecerá outra vez e apreciar a vida,
não como se fosse única, nem como se fosse eterna, mas com a sabedoria de quem
quer levar consigo o melhor de tudo o que houver em seu caminho.
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