Jean Paul Sartre foi um filósofo renomado do século XX, que
presenciou grande parte das maiores atrocidades que o ser humano foi capaz de
produzir ( duas grandes guerras, sistemas repressores e ditatoriais de direita
e esquerda, genocídios e outros crimes dos quais a humanidade deveria se
envergonhar). Ele desenvolveu um pensamento maravilhoso, no entanto, partiu de
uma premissa com a qual não sou capaz de concordar: Deus não existe.
Para ele o ser humano não é como todas as outras coisas, nas
quais a essência precede a existência, ou seja, os objetos já são criados com
um objetivo, uma finalidade, como uma tesoura que é produzida para cortar papel
e, desde antes de sua existência possuía essa finalidade. A humanidade não, ela
primeiro existe, para, em seguida, ser definida por si mesma. Assim, nós, seres
humanos, somos responsáveis por nosso próprio projeto de vida, nossas escolhas,
atitudes e os efeitos delas. Por isso, não podemos culpar aos outros, ou a um
Deus, que para ele não existe, pelos fracassos ou vitórias em nossas vidas,
visto que somos, desde o nascimento, condenados à liberdade e somos livres,
ainda que não saibamos, pois o que nos ocorre hoje é, de alguma forma, fruto de
nossas escolhas.
É possível, no entanto, chegar às mesmas conclusões sem
contestar a existência de um Deus, uma força maior e melhor do que nós, ao
afirmar que essa força, ao criar a humanidade, fez algo diferente... Algo
autônomo, capaz de definir-se e encontrar seu próprio lugar no mundo... Algo
livre por si mesmo e, de tal forma condenado à liberdade, que é um crime culpar
às circunstâncias por qualquer mazela que seja. Pelo contrário, se há coisas
inaceitáveis no mundo, cujos exemplos são quase infinitos, é por que nós, seres
humanos, de alguma forma permitimos e é nosso dever lutar contra elas.
Partindo do mesmo princípio, de que Deus fez-nos livres,
seria inconcebível a ideia de pecado, como algo proibido por Ele. Substituamos,
portanto, “pecado” pelo conceito de causa e consequência, ou seja, não somos
punidos pelo Ser Superior por nossas falhas, mas, simplesmente, temos diante de
nós as consequências de todo e qualquer ato que desempenhemos. Dessa forma
somos o que fizemos de nós e seremos o que fizermos de nós.
Nesse contexto, seria infundada a intolerância, principalmente
quando a ideia de Deus é utilizada como base para julgar os atos alheios, porque
não há um Deus intolerante, há um Deus bom, criador de uma lei justa, na qual o
que homem é seus próprios atos. Que perda de tempo, então, julgar alguém pela
cor da pele, orientação sexual, gênero, etnia, religião, partido político, time
de futebol, aparência física... Pois não temos esse poder, o que pune os indivíduos
é sua própria liberdade!
Alguém, entretanto, poderia discordar de minhas conclusões
ao exemplificar qualquer mazela que acompanhe um indivíduo desde o nascimento.
Eu, nesse caso, responderia com outra pergunta: Seria a vida humana uma existência
finita, contida em um curto espaço de tempo? Pouco provável, se procurarmos
entender a criação de uma forma mais ampla e complexa. Assim existiria,
indubitavelmente, um momento anterior ao nascimento e outro posterior à morte.
A maioria de nós desconhece ambos, mas, exatamente por isso, não há quem possa
dizer com propriedade que não exista. Assim, seria aceitável a proposição de
que essas moléstias congênitas são efeitos de causas desconhecidas, anteriores
à vida material.
Pede-se dizer, então,
que somos livres, nascemos livres, morreremos livres, seremos livres após a
morte como o fomos antes do nascimento e desde a criação!
2 comentários:
Muito bom Manoel!! Filosofo demais!!
Cirtiu pat? Bjos
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