Sem querer tendemos, ao longo da vida, a negar a morte dando-lhe uma aparência tenebrosa, como nas lendas que nos fazem acreditar desde a infância. Ela, desse modo, parece-nos um monstro assustador, sempre distante de nossa felicidade, porque, geralmente, essa felicidade está vinculada à vida do corpo. Acontece, que os luxos e prazeres da vida não nos trazem felicidade, nem nos torna imortais, mas quando nos damos conta disso, a morte está aqui ou ali, mais perto de nós do que podemos imaginar.
O que é a morte? Seria o fim ou, apenas, o desconhecido? Tal
resposta, sempre vinculada a princípios religiosos, aperta o peito até mesmo do
homem mais convicto de sua fé. Entretanto, inegável é a existência de um ser
superior, independentemente do nome que se dê a ele. Inegável também é o fato
de que nossa existência material tem um objetivo maior do que podemos
compreender e o fim dela não é necessariamente o fim.
Essa ideia é, com certeza, um conforto a mais para aqueles
que se queixam da perda de um ente querido, mas é, principalmente, uma
constatação lógica, ainda que os ateus discordem. Deus está presente na
perfeita harmonia do universo, de partículas subatômicas a galáxias inteiras.
Cada átomo, por menor que nos pareça, tem função na composição de partículas
cada vez maiores até à conformação de íon ou moléculas indispensáveis à ordem.
Esse ser superior que nomeamos de formas diversas se faz
parte integrante de tudo o que conhecemos ou que conheceremos. A partir dessa
perspectiva, é possível estabelecermos que a ordem regular das coisas dá-se por
meio de leis transcritas, não nas sagradas escrituras, mas no material gênico de
cada
ser vivo ou na conformação iônico-molecular dos seres “não vivos”. O sofrimento,
dessa forma, tem origem na não compreensão dessas leis universais ou,
simplesmente, na transgressão delas.
Não trato aqui da rigidez com que se pretende
abordar certos “princípios” religiosos como se tivéssemos autoridade para
julgar os atos alheios, mas de uma abstração interior, necessária para que
entremos em contato com nossa essência e compreendamos as leis morais que
devemos seguir para obter uma harmonia externa, independentemente do que somos,
da forma como amamos, da cor da pele de nossos corpos materiais. Então, somos
capazes de compreender o que somos e porque vivemos. Vivemos, estamos em nossos
corpos, em tais circunstancias, pelo simples fato de aprimorarmos nossa essência
imaterial no sentido de ser, cada vez mais, a imagem e semelhança do criador.
Aqui, nessa fase transitória de nossa vida real, fazemos vínculos que não são
desfeitos ou curamos chagas que provocamos em algum momento.
Dessa forma, a morte é, simplesmente, a ruptura com a materialidade.
Não passa de uma simples transição à qual todos que estão neste planeta estarão
submetidos, cedo ou tarde. O que fazer, então, diante da saudade desmedida de
quem se ama? Paciência, que, nesse caso, é sinônimo de fé. A fé naquele que é
maior, melhor e mais sábio do que nós e que, com certeza, possibilitará, em
algum momento, o reencontro entre nós e os entes queridos, pois, o destino de
todos é, independentemente do caminho que se tome, a perfeição e o encontro com
o próprio Deus .
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