sexta-feira, 18 de junho de 2010

O "não"

Ainda me lembro daquele dia. Meu primeiro e significativo “não”. Um garoto mimado e não habituado a esta palavra sente a mais profunda dor quando isso acontece. Um “não” para meus sonhos, um “não” para a forma como eu havia imaginado minha vida por todos os dezoito anos antes daquele dia. Um nome em uma lista pode não significar nada, mas para mim era tudo.
No primeiro momento, tentei pensar em outras coisas e simplesmente fingir que nada estava acontecendo. Sempre odiei ser alvo da piedade alheia. Sempre odiei ver aqueles que amo sofrerem por me ver sofrer.
Guardei minhas lágrimas e derramei-as todas junto com a água que banhava meu corpo. A água quente caindo sobre os ombros e as lágrimas frias escorrendo pelos olhos. É assim que os homens choram, derramando o dor que não se sente na frieza dos sentimentos que não se mostram.
Ainda me sentindo um fracassado fui obrigado a me reunir a outros que também se sentiam assim. Era difícil acordar de manhã. Era difícil não imaginar a repetição daquele dia. Por quanto tempo? Ainda não sei e espero com todas as minhas forças que não se repita mais, mas hoje estou mais preparado. Nem as lágrimas, nem a angústia de não conseguir me atingiriam.
Aquela dor me perseguia e me maltratava, impedia o sorriso que sempre estivera e meu rosto. Contrariei minhas próprias teorias sobre a felicidade. Um dia,no entanto, percebi que ela já não estava ali. Fiz questão não procurar por ela e abri meus olhos para a felicidade que todos temos dentro de nós. Uma derrota é sempre uma vitória quando ampliamos nosso ângulo de visão.
Sim, eu cresci com aquele “não”. Retirei a venda que tapava meus olhos e me impedia de ver o mundo como ele é sem destruir meu mundo. O mundo que criei para fugir deste e que me inspira a criar. Conheci muitas pessoas e fiz grandes amigos. Reconheci meus defeitos e aprendi a superá-los. Aprendi que a distância que nos separa dos nossos sonhos é proporcional ao valor que damos a sua realização.
Não há obstáculo que não se possa transpor, nem dor que não se possa superar.

Um comentário:

Unknown disse...

Muito bem escrito rapaz! Me fez lembrar muito bem do meu tempo de cursinho e do sofrimento que foi cada um dos "nãos" recebidos.
O que posso dizer é que gostei de passear por aqui, vc escreve de forma agradável, cadenciada e realmente sua irmã não me enganou quando disse que "escreve bem aquele garoto"! Hehehe...
Fique com Deus e continue na luta. Este mundo precisa de médicos com uma sensibilidade diferenciada!

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