sábado, 22 de janeiro de 2011

Como os nossos pais

Foi em um domingo no mês de janeiro.


Meus olhos insistiam em se manter fechados. Uma promessa desfeita e um monte de sonhos em dúvida… Um não ainda me assombrava e o medo de tomar atitudes impensadas era o que tomava conta de mim.
Durante toda a manhã inventei um bom motivo para me manter no quarto, como eu fizera quase todos os dias desde aquele NÃO. Meu quarto era o abrigo para lágrimas contidas e longas reflexões sobre meu futuro.
Eu apenas fitava o teto quando senti o cheiro de torresmo. Sentei à mesa. Pai, mãe, filho, torresmo, coca-cola e um rádio ligado. De repente, meu pai fez um olhar sonhador. O mesmo preenchia o rosto de minha mãe. O rádio tocava canções dos anos setenta e não precisei do meu meio-inglês para saber que falavam de amor.
De repente, meu pai começou a falar. Histórias, lembranças, medos e lutas, muitas lutas. Não precisei ouvir o final daquela história para saber que era feliz. Como os contos de fadas que criaram minha personalidade e que eu havia questionado... O fato é que aquela história me fez ver que a minha também teria um final feliz. Percebi que não era o momento de desistir daquilo que me fez ser quem eu sou. Percebi que as escolhas desesperadas dos momentos de dúvidas são atalhos sem saída que um dia te farão buscar de novo o caminho certo. É perda de tempo e nós não temos tempo.
Percebi também que uma promessa idiota não é o que vai me fazer vencer, pois é preciso mais do que promessas para se seguir um bom caminho.
Uma vez montei em um cavalo. Uma mula, na verdade. Minhas mãos eram pequenas e eu não pude controlar as rédeas. Saí sem freios pulando cercas e arbustos. Quanto mais eu tentava controlar, mais rápido cavalgava. Então fechei os olhos, respirei fundo e deixei que o acaso me protegesse. Um galho surgiu e minhas mãos tiveram forças para agarrá-lo.
Às vezes penso que a vida é assim. Uma mula sem rédeas... Um carro sem freios... Avião sem piloto... Fica muito mais difícil se tentarmos controlar, pois é impossível controlar o incontrolável. No final teremos histórias com meios felizes, momentos difíceis e finais incompletos, pois sempre haverá o que viver e histórias para contar.